Rondônia vista de cima

Quando viajo de avião pequeno sobre o Estado de Rondônia, fico olhado pra baixo. Às vezes me vem à cabeça alguma inspiração e, na hora, olhando para baixo, escrevo alguma coisa do que estou vendo. Assim, num repente, puxando inspiração de baixo para dentro de mim, quando fica bacana, toma uma forma de poesia.

Neste tempo seco, tudo por baixo fica meio desolador. Olho as fazendas e vejo o gado bebendo água em tanques feitos por escavadeiras. Água suja, barrenta e quente.  Pra não morrer, a boiada bebe aquela água. Vejo aguadas secas. Rios como se fossem riscos no meio do mato. Brejos e banhados escassos.

Tem muita fazenda bonita, beira de rio, e aí sim, tudo é bom e maravilhoso. Com certeza que, no passado, a maioria teve um ou dois igarapés, mas não tem mais. Pastos secos, cupins, terra socada, fraca, sem recuperação. Aí vejo, claramente, que teremos que mudar a forma de trabalhar nossas fazendas. A primeira delas seria a rotação entre pasto de lavoura, que pode ser de soja, milho, sorgo e até mesmo algodão.

Rondônia tem uma capacidade de usar até 1 milhão de hectares de lavouras; creio que aí seja o limite. E nada de querer superar o Mato Grosso, porque o Mato Grosso é insuperável. Mas poderemos produzir de maneira inteligente, como o Paraná, que introduziu, há muitos anos, o plantio direito, que é fantástico. E rodar a produção entre lavoura e pecuária.

A lavoura prepara a terra, recupera a casca dura dela quase impenetrável; a água e a lavoura mexe nela, corrige o solo e fecha o ciclo. Tem lugar, aqui mesmo em Rondônia, que tem um exemplo clássico: o Giocondo Vale, em Machadinho, na Fazenda do Aro, que alterna lavoura, pecuária e floresta com imenso sucesso. É isso que precisamos fazer.

Na pequena produção familiar, da mesma forma, é baixíssima a produtividade do leite, necessitando mexer no modelo. O diabo é que a ração está cara demais. No entanto, dá para um fazer “um trato” mais em conta para produzir mais leite, na mesma área. Há necessidade do choque de gerações. Os filhos bem preparados, ao voltarem para as fazendas e sítios, de posse de conhecimentos novos, podem influenciar na mudança. Os pais, em geral, resistem às mudanças, temem os gastos e os riscos, mas tudo isto é uma necessidade, uma inovação para fazer a terra produzir mais, desde que seja bem tratada. A terra é um bem divino. Não poderemos matá-la. A terra também morre.

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