Brasil – país onde os problemas vão para debaixo do tapete

Brasil – país onde os problemas vão para debaixo do tapete

Aprendemos a trocar uma dor pela outra como trocamos de roupa. As imagens iniciais das tragédias têm poder de encantar e mobilizar grandes campanhas de donativos. Enquanto isso, o debate mais aprofundado sobre as causas e consequências é jogado para debaixo do tapete.

Nossa memória em relação a tragédias com povos originários parece ser vez mais curta. Lembramo-nos do longevo drama dos Guajajara no Maranhão, dos Uru-Eu-Wau-Wau, de Rondônia e de tantos outros, como o massacre de Eldorado do Carajás (PA), que completa 26 anos em 2023.

Não bastassem essas tristes lembranças, estamos novamente perplexos com as atuais cenas angustiantes do povo Yanomami em situação de desnutrição alimentar, em razão do completo abandono a que foram submetidos nos últimos anos. Seguem está mesma lógica dos episódios causados pelos deslizamentos de terra em comunidades do Rio de Janeiro, de Recife, Salvador e tantas outras cidades brasileiras.

Do mesmo modo, o desastre ambiental causado pelo rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, foi mais uma que chocou a todos os brasileiros e ao mundo. Foram dramas narrados em áudio e vídeo, além, claro, das inúmeras campanhas de donativos e de solidariedade organizadas para ajudar as famílias dos atingidos. No entanto, a mobilização que se deseja, não deveria ser sempre após as tragédias, mas antes delas acontecerem.

Em relação às tragédias produzidas pelo desvio de recursos públicos, embora não ceifem vidas no ato do seu cometimento, estas são recorrentes e também produzem o mesmo impacto quando são descobertas. Mas, logo são sublimadas por outras e por outras…

É o momento de aprendermos com as tribulações, para que elas não se repitam uma após a outra, com mais força e maior dano. Precisamos, cada vez mais, cobrar do Estado a solução das suas causas, pois somente ele pode se impor aos interesses que concorrem para que existam. O protagonismo do Estado é o elemento principal para que catástrofes sejam evitadas de forma permanente. E isto é uma construção coletiva, permanente.

A dor do outro não é problema apenas de indivíduos, de heróis. Deixemos à sociedade apenas o voluntarismo da empatia, do amor ao próximo, da solidariedade espontânea e da caridade como valores que nos fazem verdadeiramente humanos. Ou aprendemos assim, ou de nada vale a nossa condição de sermos humanos

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