A cruz das almas

A cruz das almas

Da Vila do Duro à cidade de Dianópolis carregava o enigma do fogo andante, em fachos que imitavam seres humanos em movimento. Era a luz humana. Uma forma de energia do lugar. A luz que se tinha por dentro, cada um com sua cruz das almas e seu fulgor. Cada dianopolino tinha sua transcendência própria.

A cruz não tinha idade, como se fosse a própria eternidade, não teve começo conhecido, só desapareceria com a extração do seu ouro como um filão profundo. Tudo deveria ser removido.
A cidade não subia o morro, ficava contida no seu quadrado, o cruzeiro e a cidade mantinham-se distantes, uma misteriosa sentença, a luz do túmulo repelia o crescimento, a comunidade movida por laços estreitos de crenças e sangue. O mesmo sangue de um corria na veia do outro.

De geração em geração, de tanto ver falar, de tanto ver a luz na noite sobre a cova, de tanta dúvida sobre o morto, a cidade foi-se acostumando com o fenômeno sobrenatural. Como se tudo fosse uma ilusão dos tempos e dos costumes.

Só aquele que carrega a dor dos mortos pode entender a cruz das almas. O fogo-fátuo se apagou e a cidade cresceu. Eu nunca vi a luz bruxuleante com meus olhos, mas, ela existiu, de verdade.

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