O buraco do ouro

O buraco do ouro

Por mais que se queira, não se guarda segredo sobre um garimpo de ouro. A conversa se irrompe pelo ar ou pela terra. Foi assim que o americano Billy Johnson, rico e aventureiro, chegou à Vila de São José do Duro no final do Século XIX.

As duzentas casas eram de taipa, cobertas de palha de buriti. A vida sertaneja era paupérrima, com terras ermas, onde hoje está o chamado Matopiba. Aves e bichos eram abundantes. Era um lugar com brejos, buritizais e água cristalina. Um mundo admirável e complexo.

A paz da região foi abalada pelo ouro. Billy, explorador determinado, que se submetia às adversidades pela riqueza, tinha um sonho incontrolável pelo ouro, num ambiente hostil; um Brasil onde a lei não tinha chegado.

O plano de Billy era o de extrair sempre mais e mais ouro. O que ficava cada vez mais difícil, porque o que era superficial e fácil já fora extraído. E assim foi aberto o buraco do ouro, como ficou conhecido até hoje.

O buraco progrediu com os escoramentos de madeira roliça, a puxada e a descida dos homens no sarilho; a rocha perfurada, quebrada, moída, que era tirada para fora com um engenhoso sistema de roldanas.

As infiltrações d’água brotavam, gotejavam sobre os garimpeiros suados, numa chuva perene, e a vida nada significando, com o ouro como a meta mais nobre.

As índias escravizadas, os negros que trabalhavam pelo prato de comida, o sertanejo sempre arredio, o corpo sofrido, o sertão revolucionário pelas eras geológicas, os gerais do Jalapão à Serra Geral, dividindo idades da terra, misturando fronteiras, semeando escalas de minerais, quedas d’água.

De tudo, não se registrou nenhum garimpeiro que tenha ficado rico. Seguiam os infortúnios com um acidente a cada dia. Com o uso dos explosivos, o garimpo fracassou. A terra tremia, zunia o som retumbante no oco do mundo, e refletia na serra num eco assustador.

O ouro nunca despertou interesse do homem sertanejo, que jamais teria coragem ou interesse de furar a terra e saber extrair dela os segredos ricos.  Ele só via e usava o que lhe era externo, que poderia palpar e sentir o gosto, como as frutas abundantes do cerrado.

O buraco do ouro fechou-se definitivamente, e a vila atualmente caminha sobre uma riqueza, que nunca mais quiseram explorá-la.

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