Adão Preto foi deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul. Já é falecido. Convivi com ele. Veio dos movimentos socais, especialmente integrado ao MST. Homem simples, de fala costumeira dos trechos onde sempre viveu. Nunca arredou o pé das causas de que acreditava. Ele não era de muita conversa com gente de outros partidos. Era reservado.
Lembro dele e não me esqueço, embora, infelizmente, não tenha conseguido ser um companheiro de prosa, que para mim seria enriquecedor. Me lembrei dele hoje. Assim, num insight. Um sonho acordado. Pan!!! Veio Adão Preto no meu dia. Um grande homem. Extraordinário parlamentar do seu jeito de ser. Autêntico.
Um dia na Comissão de Agricultura, naqueles debates enormes entre os defensores do agronegócio e poucos que defendiam os pequenos agricultores familiares, ainda mais gente do Movimento Sem Terra (MST). Era um verdadeiro massacre de superioridade dos primeiros contra os segundos.
Adão pediu a palavra e disse, cadenciadamente, sem elevar e nem reduzir o tom da voz: “a terra não tem dono, a terra é um bem de todos nós. Porque a gente passa e a terra fica. E um sucede o outro. Não se pode aceitar que bem poucos sejam donos da grande maioria das terras brasileiras. Enquanto os pequenos trabalhadores não têm direito a ela. A terra é como a água e o ar. Todos nós poderemos baixar o boca numa bica, tomarmos água e respirarmos o ar que nos cerca. Não se pode imaginar, alguém sacar de uma arma e gritar – pare!!! Não beba a minha água e nem respire o meu ar”. É por estas palavras que recordo de Adão Preto celestial. As suas palavras vieram de dentro do seu coração, e o seu propósito era aquele.
Adão Preto, o seu grito ainda não foi ouvido. E está ainda retumbando nos grotões e ermos deste Brasil cheio de porteiras.