Abro o computador, sem nenhuma ideia. Fico olhando a tela. Fecho os olhos e respiro fundo. Como escrever alguma coisa importante, neste momento, sem ter nenhum plano? Parece um paradoxo, com tanto tema que nos invade a cada segundo e cada um deles, por si só, seria o suficiente para um belo texto.
Deixemos de lado os assuntos importantes. E vamos falar daqueles sem importância. Como por exemplo, a fumaça que sobe todas as manhãs da floresta ou mesmo, a necessidade das formigas cortadeiras limparem as folhas dos abacateiros. E parece, sem importância, a extinção do assa-peixe, que prosperava nas pastagens, como praga, que serviam tanto as abelhas, para um mel maravilhoso. Assa-peixe desapareceu. As abelhas também. Sem polinização não haverá multiplicação. Isto tudo depois do advento dos venenos herbicidas.
Quando se usava apenas a foice na roçada do pasto, ele ficava por ali. Como você pode imaginar um morador de rua, desamparado, que foge da chuva ou do frio, sem ter por onde se abrigar. Me parece que aqui, a coisa é importante e mereceria um estudo e solução. E aquele músico, sem fama e público, que se põe ao ar a sua voz, que ecoa enquanto a multidão passa. Falta-lhe a oportunidade de fama? Falta-lhe levar a um programa de televisão do domingo à tarde?
O meu tema de hoje é o alto astral das coisas sem importância, acho que todas elas devem se sentir muito bem por não terem altares de celebração e, por isto, podem viver em estado de natureza, em comunhão com o silêncio, sem olhares e sem julgamentos. Simplesmente assim.
Poderemos mergulhar neste universo das coisas desimportantes. Quando lá à frente, se percebe as redes de comunicações entre as raízes formando teias de contatos salvadores entre árvores. Uma árvore ajudando a outra, emprestando-lhe solidariedade. As minhocas formando túneis, arejando o solo, engolindo e expelindo, multiplicando-se. Elas por si e outros insetos, fungos e bactérias promovem revoluções, enquanto a vida prospera. Assim são as coisas. O que parece não ser, é. O que não se vê, existe. É o poder do invisível, governando a vida.
A perda do seu celular. Foram-se os contatos, os recados e você retroagiu no tempo, não sendo mais uma pessoa de convivência, como um presidiário, sem a sua rede de relacionamentos. A dor de um “delete” inadvertido, que para mim, não tem importância, para você será um ano para refazer tudo de novo. Perdeu-se o capital afetivo.
Eu quero uma bola de gude. Ele quer um videogame. Eu quero uma finca para riscar o chão. Ele quer um jogo na Internet. Eu quero o silêncio de uma beira de rio. Ele quer voar para Paris, para tirar uma foto diante do Arco do Triunfo.
A sofreguidão pode ser também um pecado capital. A escassez pode ser uma virtude, no seu sentido fransciscano. Do outro lado, a escassez de uns pode ser um sistema desequilibrado de vasos comunicantes que vai drenando água para os lagos já abastecidos.