Bem, chegou um momento em Ariquemes, fim dos anos 78, 79, 80, em que a Malária estava demais. Foi chegando gente, foi chegando gente, chegando gente. Era gente de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, do Paraná, de todo lugar do Brasil. A Malária foi pegando todo mundo. Muita gente foi adoecendo, inclusive com a malária grave, e o hospitalzinho de madeira, de tábua, não cabia. Lá só tinham seis leitos.
Aí não teve jeito, fui lá falar com o administrador, que era o Olavo Nobre e disse: – nós temos que fechar a escola por uma temporada pra tratar os doentes de Malária. Não tinha cama não, não tinha suporte de soro, não tinha nada. Então a gente metia prego nas paredes, amarrava um cordão, amarrava o soro e botava o doente no chão, botava o colchão no chão e aí nós ligávamos o soro.
Para malária, o tratamento era feito com quinino. O quinino era azul, um soro azul. Para malária mais branda, vivax, a gente tratava com Aralém, Cloroquina e outros remédios. Mas difícil mesmo era a malária grave, causada pelo p. falciparum, que pode levar ao torpor cerebral, coma e à morte.
É difícil recuperar um doente comatoso, pois seu estado pode levar a uma insuficiência renal, com comprometimento do fígado. Nesse estado, a pessoa fica amarelada, hiptérica, com a urina escura, esquisita. É uma gravidade danada.
Dessa forma foi que transformamos a escola num Hospital de Campanha, Hospital de Guerra. Ali, Alice, que era médica, e eu (só tinha nós dois) ficávamos cuidando desses doentes no chão. Uns morriam, outros eram salvos. E nosso nome foi pegando na cidade, com um certo respeito, devido ao atrevimento que a gente tinha, que era demais da conta. E essa foi a solução.
Mais tarde, bem mais tarde, já quando veio surgir a cidade, é que veio o primeiro hospital público, que foi o hospital do SESP, onde funciona hoje a Unidade Mista de Ariquemes, o Hospital Regional de Ariquemes era um ambulatório do SESP, com alguns leitos de internação.
Chegaram depois os médicos do SESP, que eram muito organizados, tinham planejamento muito bom. Não existe mais a Fundação SESP, uma pena, pois funcionava divinamente bem.
Além do tratamento de saúde, o hospital fazia a prevenção às vacinas, distribuía privadas, tanques para lavar roupa, e trazia uma série de outros benefícios que eram feitos para a população. Esse foi um grande programa de saúde pública do Brasil, implantado na década de 40 por uma inspiração americana, mas que foi extinto em 1988.
Essa é parte da história de Ariquemes, da escola Francisco Caldeiro Castelo Branco, escola que não existe mais, que eu fechei. Ela foi demolida, ficava ali no Marechal Rondon, ali bem perto de onde existe hoje uma escolinha infantil. A Castelo Branco não existe mais.
Foto capa: Lúcio Albuquerque e arquivo público.