Se tem uma coisa que eu realmente não sei fazer, é festa. Especialmente festa de aniversário. Nunca tive muito jeito para isso — chamar gente, organizar as coisas, ser o centro das atenções. Não é algo natural para mim. Sempre admirei quem faz isso com leveza, com graça, mesmo nas celebrações mais simples. Talvez isso venha da vida corrida de médico, sempre de prontidão. Muitas vezes eu estava em casa e, de repente, era chamado ao hospital.
Como médico no interior, essa disponibilidade constante me acompanhou por décadas. Nunca tive a tranquilidade de preparar uma festa e simplesmente estar presente, com tempo para um vinho, uma conversa sossegada. A qualquer momento, podia surgir uma urgência.
No último dia 16 de maio, completei 77 anos. E o pessoal que trabalha comigo em Brasília resolveu me fazer uma surpresa. Ah, as surpresas… Era uma pequena festinha. Chegou um bolo delicioso e apareceu bastante gente. A Elizete comprou um bolo pequeno, e acabou não dando para todo mundo. Foi tanto elogio ao sabor que até brincaram: “Faltou porque estava bom demais!”
Na hora, comentei: “Tá vendo como é fazer festa?” E rimos do bolo pequeno. Depois, o Zózimo me contou que tinha gravado vídeos e pedido a amigos — senadores, ministros — para mandarem homenagens. Foi bonito, carinhoso. Mas eu disse: “Meus amigos, já não tenho mais idade pra isso. Aos 77, o melhor presente é o sossego. Vamos deixar esse tipo de coisa pra lá.”
Pedi com carinho: nada mais de festas-surpresa. Elas me deixam sem jeito. Talvez, se eu chegar aos 80, aí sim… Quem sabe? Posso até me preparar, contratar quem entenda do assunto, fazer algo bonito, bem organizado. Mas no meu tempo, do meu jeito.
À noite, minhas filhas me levaram para jantar. Estavam elas, as netas, duas amigas e o namorado de uma delas. Um momento em família. Levei a Alice, minha mulher, e fizemos uma confraternização íntima, tranquila. No restaurante, claro, cantaram o “bendito parabéns” — e eu ali, todo encabulado, porque o lugar estava cheio. Como é que canta parabéns pra um velho assim, em público? Mas cantaram, rimos, nos abraçamos. Foi bonito. E fomos embora em paz.
Então é isso. Agradeço cada gesto de carinho, de verdade. Mas, com todo respeito e afeto, peço que me deixem comemorar do meu jeito — ou não comemorar. Vamos seguir, trabalhar, viver com leveza. E guardar as festas para quando o coração pedir, não para quando o calendário mandar.