Eu já vi muita coisa nesta vida, mas esse Trump… esse não é brinquedo, não. O sujeito acorda de manhã já querendo botar fogo no mundo. É meio puxado a Nero, aquele imperador romano que tocava lira enquanto Roma ardia em chamas. Trump não toca lira – ele urra. Urrando, ele impõe tarifaço de 50% no aço e alumínio do Brasil como se fosse castigo de escola. E deve ter rido da nossa cara, achando graça de um país que ainda lhe presta continência.
Se o camarada torce o nariz até pra Harvard, como é que vai gostar do Brasil, da Indonésia, do Cazaquistão? Não gosta nem de quem é da casa. Imaginar que vá respeitar os de fora é sonhar alto demais. Aliás, quando um presidente latino disse que ia parar de usar o dólar como referência, Trump agarrou o homem pela orelha – quase arranca. Só não foi mais longe porque a diplomacia ainda tem cadeado.
E aquela fala… aquela boca de bico de pato grita “América para os americanos”, como se os demais fossem pragas a serem extintas. Mexicano, nem morto – manda fazer muro de dez metros, achando que concreto segura dignidade. Haitiano, então, nem se fala. Tem pavor dos rituais, dos tambores, dos rostos negros. É como se a diversidade fosse uma ameaça.
Salvadorenhos ele tolera só porque o Bukele, o jovem ditador em construção, ergueu um presídio pra quarenta mil. Trump aplaudiu e ainda mandou pra lá uma leva de migrantes, como se fossem carga. Cuidem aí dos seus, disse. E ficou por isso mesmo.
Mas o tarifaço é só a superfície. O subterrâneo é mais sombrio. A mira está nos onze milhões de imigrantes latinos, africanos, asiáticos – os lavadores de prato, cortadores de grama, carregadores de saco de cimento, cuidadores de idosos, lavadores de banheiro. Gente que faz o país girar sem jamais ser convidada para o banquete. Esses, ele quer fora. Quer bala nos índios, corrente nos negros. E se pudesse, voltava o filme todo pra era do faroeste, onde a lei era o revólver e a justiça, o cavalo mais rápido.
É esse o sonho americano dele: uma América branca, blindada, armada e arrogante. Um império do medo e da tarifa. Um país que se olha no espelho e se acha o dono do mundo, mesmo que o mundo já tenha mudado de dono faz tempo.
Trump não quer só o poder – quer a eternidade. Quer o trumpismo como religião, com ele no altar, de cabeleira empavanada feito boneca de milho, e multidões urrando aleluia em seu nome. Mas o demo, meus amigos, às vezes vem vestido de terno e gravata. E fala inglês fluente.
E a gente aqui? Que se cuide. Porque o mundo, se depender dele, será dividido entre quem manda e quem obedece. E o Brasil, com essa mania de bajular império, corre o risco de virar colônia de novo – só que agora com imposto de importação e sem direito a gritar.