Tantos Brasis

Tantos Brasis

Às vezes, eu paro pra pensar nesse nosso país — e chego à conclusão de que o Brasil não é um só. São muitos. Tantos Brasis dentro de um só território que, talvez por isso mesmo, a gente tenha tanta dificuldade de se entender.

Quem nasce no Rio de Janeiro, com os pés na areia e o Cristo Redentor de braços abertos ali do lado, não faz ideia do que é viver em Rondônia. E não é exagero, não. Confundem Rondônia com Roraima, Amapá com Macapá, Pará com Quixadá. Trocam forró por enxó, e fazem uma mistura que nem Deus deve entender direito.

O país é grande demais, diverso demais. Um gaúcho conversando com um sertanejo lá do Ceará parece até que são de nações diferentes. Cada um com seu sotaque forte, sua cultura arraigada. O gaiteiro do sul é o mesmo que o sanfoneiro do nordeste — e nenhum dos dois abre mão do seu vanerão ou do seu forró. E tá certo. Isso também é Brasil.

A nossa mestiçagem — tão celebrada nos livros e nos estudos dos sociólogos — na prática, é uma ferida aberta. Somos um povo, em sua maioria, negro, pardo, excluído. Pobres, empurrados pra margem. E nem vou entrar na dor dos povos indígenas, que seguem resistindo com fé nos seus deuses, nas suas pajelanças, na força ancestral que carrega esse país nas costas desde antes de ele ser Brasil.

No meio disso tudo, tem os populistas que vivem se estapeando em esquina de palanque. E os demagogos, gritando promessas fáceis que evaporam no dia seguinte. E tem também — pasme — quem ainda clame por ditadura, pau de arara, censura… como se a liberdade fosse peso e não conquista.

E, mesmo assim, olha que curioso: com tudo isso, a gente segue amando esse país com uma paixão danada. A gente se derrama nas festas de São João, dança quadrilha como se o mundo fosse acabar, e vive quase um mês inteiro em ritmo de carnaval. É nessas horas que a gente se esquece, nem que seja por um instante, das nossas dores.

O Brasil é isso. Um país de contrastes, de contradições, de uma riqueza cultural imensa e de desigualdades profundas. Mas é nosso. E cabe a nós entendê-lo — em suas muitas vozes, sotaques, crenças e caminhos.

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