Ser político no Brasil de hoje é como caminhar em campo minado. Em um país cada vez mais polarizado, a democracia se enfraquece diante da intolerância crescente. Quando um lado se manifesta, o outro reage com rejeição imediata — e o debate público, em vez de amadurecer ideias, se torna um campo de batalha emocional e improdutivo.
A população está bem-informada. Os noticiários acompanham tudo em tempo real, os escândalos não duram mais que algumas horas sem análise, e quase ninguém pode alegar ignorância. Ainda assim, o cidadão comum segue impotente entre eleições, acumulando frustração e desconfiança. No fim, resta um único instrumento de mudança: o voto. E é nesse momento que mora o risco.
Candidatos surgem embalados como produtos de prateleira: aparência cuidada, discurso ensaiado, promessas ajustadas para agradar ao maior número possível de eleitores. A propaganda política transforma figuras comuns em heróis de ocasião — personagens construídos para inspirar esperança, ainda que vazios de conteúdo real. Muitos sabem exatamente o que dizer para encantar, mesmo que para isso precisem sacrificar qualquer vestígio de coerência.
A política virou um palco, e seus atores seguem roteiros já conhecidos. A maioria das estratégias que vemos hoje é apenas repetição disfarçada de novidade — versões atualizadas de práticas antigas.
O Brasil não precisa de um candidato carismático com frases de efeito. Precisa de alguém com visão de longo prazo, disposto a encarar decisões difíceis sem se guiar por cálculos eleitorais. Um condutor firme, que tenha coragem de enfrentar resistências e conduzir o país com responsabilidade, mesmo que isso custe popularidade.
Se o rumo atual não for alterado, a instabilidade pode tornar o país praticamente ingovernável já na próxima década. Está tudo nos dados — a matemática não se impressiona com discursos. Ou promovemos uma mudança real, ou o colapso será apenas uma questão de tempo.