Será que eu sou louco?

Será que eu sou louco?

Gosto de poesia. E por gostar, me pergunto: será que sou louco?
Os poetas são trabalhadores como qualquer outro. Sua ferramenta é a palavra. Seu ofício: colocar a palavra certa no lugar certo, na hora certa — e, com isso, erguer mundos, costurar fantasias.

Minha mãe dizia: “ninguém come poesia”. Para ela, poesia era coisa de preguiçoso. Mas mal sabia que, sem perceber, ela mesma fazia poemas com linha e agulha. Era bordadeira. No pano esticado no bastidor, a máquina Singer pedalava como se fosse coração batendo. Das mãos dela surgiam flores, ramos, caules, luas, céus estrelados. Cada toalha era uma tela. Cada vestido bordado em Richelieu, uma história. Cada guardanapo, um espanto.

Assim também é a poesia: bordar palavras no branco do papel.
João Cabral, o “poeta-engenheiro”, com sua precisão quase matemática.
Clarice Lispector, escreve como quem se perde no próprio enigma.
Paulo Leminski,  joga diamantes dentro das frases.
Waly Salomão, sem papas na língua.

A poesia tem algo de sagrado, de sobrenatural, um sopro que não se explica. Assusta e fascina.
Eu, confesso, tenho medo dos poetas. Porque sei que eles conversam com a morte e voltam vivos para nos contar. Como disse Belchior: “ano passado eu morri, mas este ano eu não morro”.

 

Deixar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.