Costumo dizer que a economia não tem coração. E não tem mesmo. Ela não é uma ciência exata, não segue uma linha reta, não dá garantias. Depende de tudo um pouco: fatores que conhecemos e fatores que ninguém controla. Vai desde a psicologia humana até a teoria dos jogos; passa por desastres naturais, decisões de outros países e, principalmente, pelas guerras que explodem mundo afora.
Mas, deixando de lado essas ventanias externas — que sempre sopram quando menos esperamos — o fato é que, se continuarmos no ritmo atual, o Brasil caminha para uma crise econômica que exigirá medidas duras. Medidas que, cedo ou tarde, teremos de enfrentar para recolocar a casa em ordem.
Não somos os primeiros a viver isso. A Grécia, em 2010, é um exemplo marcante: precisou fazer ajustes dolorosos, mexer em estruturas profundas, cortar na própria carne. Houve protestos, lágrimas e muito ranger de dentes. Mas não havia alternativa.
Todos sabem que educação de qualidade é a base mais segura para o desenvolvimento de qualquer país. Dá trabalho, leva tempo, exige persistência. Mas precisa ser tratada como prioridade absoluta. Junto a ela vêm as reformas estruturais — previdenciária, orçamentária, administrativa, fiscal. Reformas que quase sempre são impopulares, mas inevitáveis.
Alguns dizem que, no Brasil, não haveria espaço para um “ônibus” de reformas como o que o presidente Milei implementou na Argentina. Argumentam que nada disso passaria no Congresso. Pois bem: não podemos esperar que caiam do céu deputados e senadores perfeitos, anjos iluminados, imunes a pressões e interesses. Trabalhamos com o Congresso que temos — com seus extremos, seus moderados, seus acertos e equívocos. São eles, somos nós, que temos a responsabilidade de tomar as decisões que o país precisa.
Hoje, a verdade é que um presidente manda pouco. Quase tudo está vinculado, indexado, engessado por leis anteriores. O Tesouro paga automaticamente boa parte das despesas, e o que sobra para investimentos são apenas migalhas. E, com o passar dos anos, essas migalhas ficam ainda menores.
Por isso surgem tantas tentativas de flexibilizar regras, driblar limites, ajustar o arcabouço fiscal. Não sou economista — e nem preciso ser — para perceber que estamos lidando com uma máquina pesada, lenta e cheia de amarras. Mas essa é a realidade, nua e crua.
A economia não tem coração. E justamente por isso precisamos ter cabeça — e coragem — para fazer o que precisa ser feito.