Considerada como um desastre social, a negação da política povoou o imaginário dos estudiosos e acadêmicos por década
A negação da política sempre foi um aliado do subdesenvolvimento e do atraso. Mesmo em regime ditatoriais, as decisões são políticas e, portanto, têm impactos sobre as vidas das pessoas subjugadas ao regime. Em uma sociedade democrática isto é mais verdadeiro, uma vez que as decisões envolvem vários espaços de poder que, em tese, representam os interesses do conjunto dessa sociedade.
Nos últimos anos do regime militar, o Brasil respirava política. Em qualquer canto, beco, viela, praças, igrejas, botequim, grupo de jovens, sala de aula todos discutiam política, formas de voltar à liberdade, de romper com os limites impostos pela ditadura. Deste movimento surgiram organizações de resistência ao regime (direitos humanos, ambientais, religiosos, sindicais, classistas, políticos) que organizaram a volta à democracia e nos ajudaram a exercitar a vida em liberdade.
Com o desgaste da atividade política 30 anos após a redemocratização, o debate da política se resumiu às pautas partidárias e ao personalismo em torno de alguns nomes de grande alcance popular – e de diferentes nuances e profundidade política. Quando os ânimos entre estes se acirraram, iniciou-se o discurso, enganoso, de que tínhamos voltado à negação da política.
Isto não é verdade. Nenhum movimento feito por qualquer um dos lados da cena política brasileira tem a abdicação da política como pano de fundo, menos ainda a sua supressão como objetivo. É a forma de fazer a política, o quanto de humanidade tem nas teses políticas defendidas, no respeito às regras estabelecidas para o jogo político e na biografia de cada um dos políticos envolvidos que se avalia o desenvolvimento de uma sociedade.
Os movimentos mais conservadores não negam a política. As recentes eleições para os conselhos tutelares foi a prova de que participam ativamente da vida política e que querem ocupar todos os espaços possíveis. As bancadas que os representam nos parlamentos, Câmara e Senado inclusos, são provas de que a política é um jogo que gostam de jogar. No regime democrático, Isso é legitimo. O mesmo se aplica às teses que defendem.
O que as forças não conservadoras devem evitar é o discurso, ou a crença, de que nas teses progressistas estão todas as virtudes da política. Não! Elas estão em todas as formas de atuação política. Se são de fato virtuosas, a sociedade – e aí voltamos ao nível de evolução que citamos no começo deste texto – é que definirá, nas formas e momentos estabelecidos no seu regramento.
Portanto, a luta política é maior do que a disputa por eleições, por votos. A política, no seu nível mais alto, exige “o quanto de humanidade tem nas teses defendidas…”. Falo de humanidade, que é o maior de todos os valores defendidos por aqueles que não negam a política.