É domingo de Páscoa, os cristãos comemoram a ressurreição de Cristo fervorosamente. Junto ao evento, o costume de se presentear amigos com “ovos de chocolate”- ovos de páscoa.
Eu fiquei imaginando o que poderia significar oferecer justamente o chocolate nessa data religiosa. Poderiam ser outros presentes? Não. É o chocolate. O mundo come muito chocolate. Não tem como não gostar dele. Só se sabe que iniciar é bom e terminar é um padecimento.
Há quem seja viciado em chocolate. Compulsão mesmo. Pensando nesse fenômeno universal, que é o prazer sensorial por ele e o consumo cada vez maior, é que temos que pensar na produção. Vou deixar de lado o simples prazer de comer chocolates, para falar de algumas cidades rondonienses surgidas a partir do plantio do cacau.
Não me pergunte quem foi o gênio da lâmpada que fincou na cabeça do colonizador que o cacau deveria ser a cultura principal de Ariquemes, Jaru, Theobroma (nome científico do cacau – Theobroma cacao), Cacaulândia, Ouro Preto e mais outros tantos municípios). Plantou-se os cacauais. Milhares de hectares. Barcaças de fermentação. Secadores. Até a indústria de beneficiamento foi construída em Ariquemes (A Bramazônia – que não tardou a fechar as portas).
Veio a Vassoura de Bruxa (Crinipellis perniciosa), doença fúngica que ataca a planta até a morte. A Bahia foi abalada economicamente pela praga. Rondônia trocou a roça de cacau pelo pasto. No Pará, que iniciou o plantio no mesmo período em Rondônia, produtores orientados pela CEPLAC foram estudando a doença, convivendo com ela, ajustando os clones, superando as dificuldades. Hoje, o Pará está entre os maiores produtores do Brasil.
Fiz uma viagem ao Equador, ali pelos anos 2000, com Divino Cardoso, Caio, Rubens Miloch, Wilson Steca e mais gente. Fomos conhecer os mistérios da Fazenda Santa Beatriz, numa província próxima a Guayquil. Justamente, na região, no início dos anos 50, um pesquisador atento, descobriu na floresta um cacaueiro vigoroso, que não contraia nem “monília” e nem “vassoura de bruxa” e de elevada produtividade. Ficou conhecido como CCN-51. Esse clone milagroso foi replicado naquele país, com sua imunidade natural, como se tivesse sido vacinado.
A CEPLAC vem estudando muitos outros clones brasileiros. Hoje em dia, temos muitos deles tolerantes ao fungo. E agora, com certeza, dá para Rondônia colocar no seu plano de futuro a reconstrução da lavoura cacaueira.
O Cacau deve ser plantado em chácaras, sítios, fazendas. Não há necessidade de se plantar roças imensas. O fundamental é que todo mundo tenha uma moita de cacaueiro na sua propriedade. A diversificação. Vale como reflorestamento. Lavoura perene. Um pé de cacau bem cuidado pode produzir por mais trinta anos.
O cacau, como o café, deve ser mania em nosso Estado. Todo mundo adora café. Todo mundo adora chocolate. Não teremos problemas de consumo. Assim como a soja e o milho para os grandes produtores, também o café e o cacau para os agricultores familiares. O cacau é para todos.
Eu recomendo aos prefeitos rondonienses que iniciem com essa pregação do plantio do cacau em seus municípios. A CEPLAC está passando por uma lenta fase de desmonte. Mas seus técnicos, mesmo aposentados, estão por aí, com um conhecimento extraordinário e podem ser parceiros na transferência de conhecimento para as novas gerações.
O cacaueiro está na floresta amazônica. Se ele é nativo, consequentemente pode ser plantado com clones tolerantes às doenças. E o mais é cuidado e se sentir orgulhoso de aumentar o trabalho e a renda na sua propriedade.
Plante cacau.
Confúcio Moura
17 de abril de 2022