Recentemente tivemos uma exposição do repórter fotográfico Orlando Brito, chamado Tempo de Chumbo, naquela área de exposição entre a Câmara dos Deputados e o Senado que eu estava curioso para ver. Lógico que aquelas fotos são de um só fotógrafo e ele pegou as cenas que julgou mais conveniente daqueles momentos. Mas, de qualquer forma, a exposição espelha toda a realidade vivida naqueles 21 anos de ditadura militar no Brasil.
Muita gente que quer abrandar o nome, fala em golpe militar, fala em revolução. Mas para mim foi ditadura mesmo. Era uma ditadura de exceção, guiada por atos institucionais. Mas, o mais relevante de tudo que eu vi na exposição foi o nível da resistência.
Não foi assim, de mão beijada, que transcorreram aqueles 21 anos, não. Eram estudantes nas ruas, nas manifestações, na Guerrilha do Araguaia, onde muitos resistentes foram montar suas bases a partir daquela distância, nos ermos do estado de Goiás, hoje Tocantins, em Xambioá, e ali, armavam uma contraguerrilha. Uma ofensiva.
Teve também nas cidades os grupos de esquerda que enfrentavam a ditadura, sequestrando diplomatas, assaltando bancos, fazendo mil coisas, a fim de provocar uma resistência e promover uma insurreição. E depois o velho MDB de guerra, o Mandabrasa, através da figura olímpica, extraordinária, inesquecível de Ulysses Guimarães, Tancredo, nunca tiveram medo de enfrentar, mesmo com o exílio de inúmeros cientistas, poetas, escritores, colegas, deputados, presidentes, que foram jogados para fora do país.
Então, a exposição Tempo de Chumbo é memorável. Nem precisa de legenda, bastam as fotografias, as fotos dizem tudo, mostram a realidade, as expressões, os ângulos, as torturas, os exercícios para torturadores, enfim, a organização de uma estrutura de poder altamente cruel.
Eu me reencontrei com aquilo, porque justamente, naquela exposição, eu sou testemunha. Eu vivi a adolescência, a juventude, certa maturidade da vida nesse período. Então, pra mim, é muito importante me encontrar com esses tempos para nunca mais ter nostalgia.