O Cacique Raoni esteve na audiência pública, realizada pelas Comissões de Meio Ambiente e Direitos Humanos, no dia 30 de abril de 2021. Ele falou da sua aldeia em Mato Grosso, por videoconferência. 91 anos de idade, lábios esticados por adorno chamado bodoque. Camisa desabotoada. Bem a vontade. Falou no seu idioma caiapó. Claro que não entendi nada.
Levantou a voz do líder, como se bradasse para a floresta ou para multidões, entonando ora o agudo e convincente, para chamar a atenção, ora brando, suave, mais à frente o grave advertido, como se conversasse com os filhos e netos. A sua voz tinha um afago e um chicote.
Mesmo que não houvesse nenhuma tradução, não seria necessária. Eu senti a sua energia. Eu senti a sua autoridade real. Eu senti a sua coragem. E tudo que foi falado na audiência por grandes especialistas, ouvir Raoni foi uma rara oportunidade.
Claro que vou colocar os principais destaques da sua fala, entre aspas, para que todos possam sentir que ele carrega em si a causa do seu povo. A voz da indignação de suas comunidades. Termina que ele expressa a voz do índio do Brasil inteiro.
O tradutor:
“Primeiro ele fala que queria agradecer as pessoas e fala boa tarde pra todo mundo. No começo da fala dele, ele está pedindo que as pessoas que lutaram naquela época, continuem lutando pelos direitos da população indígena, a questão da demarcação das terras indígenas … e o governo que não está respeitando a população indígena. “Então, por isso eu vou continuar lutando e defendendo meus povos para que eles possam viver em paz. ”
“E também, que ele está dizendo para que as pessoas que estão lutando, continuem a lutar pelos direitos dos povos indígenas. Que ele não pode ficar parado. Não! Temos que ficar firmes e lutando por nossos direitos, porque eu continuo lutando e defendendo meus povos até o fim.”
“E que não podem ficar assim, só ouvindo que os brancos que estão falando que querem acabar com os direitos dos povos indígenas. E outro: nós somos os primeiros habitantes do Brasil. Isso que sempre meu pai contava naquela época. Por isso que eu sempre falo com as autoridades pra respeitar a população indígena”.
“Porque eu sempre falo isso com autoridade pra gente ter, unir, trabalhar unido. Tem gente que não escuta e só quer acabar com as coisas que estão dentro das terras, como madeira, ouro, essas coisas, então isso que eu não quero”.
“Quando os portugueses que chegaram no Brasil, que mataram muita gente, muitos indígenas. E também eu já trabalhei com o Claudio e Orlando Villas Bôas. Eles sempre contavam a vida dos homens brancos. Porque a vida dos homens brancos, eles enganam as pessoas e já tomam as coisas dos índios”.
Ao final da fala dele, ele está pedindo pra Sônia Guajajara, e outras pessoas que lutaram junto com ele, pra ficarem firmes e continuarem lutando e defendendo os direitos dos povos indígenas”.