Quando cheguei a Ariquemes, só tinha a cara e a coragem, além de alguns apetrechos de medicina. Era a Vila Velha, que já tinha sido Papagaio. Os fios de cobre que Rondon esticou, ainda estavam dependurados nos postes de ferro,
em alguns trechos. Transcorria o ano de 1976, com a mistura de um presente, bem real, onde se aceitava o choque por um futuro ainda bem incerto.
Os moradores antigos respeitavam os postes e os fios telegráficos de Rondon. Não tardou muito os fios sumiram, os postes também, tiveram novas serventias, no escoramento de barracos e amarração de caibros. A cidade estava na promessa de existir. A estrada era de chão, ônibus traziam gente, caminhões com mudanças e bichos de estimação. A Vila se misturou tanto, forasteiros e nativos, não se entendiam. Os novos queriam terra. Os antigos queriam paz.
O Rio Jamari era o ponto de encontro. Subir e descer ladeiras. Nuvens de mosquito rodopiando as cabeças. O pium picava a pele branca e virgem. Deixava a pele em ralo. A região tinha segredos. Mosquito não faltava. De tantas espécies e doenças. O caboclo tinha resistência. Mosquito não mexia com eles. A terra, o poder, a esperança.
No entremeio da espera pela cidade nova, veio o tormento da malária, as feridas bravas (leishmaniose). A endemia é uma guerra civil. Muita coisa aconteceu, como passado é passado e de mão em mão, a cidade veio caminhando, até chegar a este lugar de hoje, além do que se imaginava.