Outro item que temos de tratar na Comissão Mista é o crédito solidário, o microcrédito. Eu acho que o microcrédito ainda não foi levado a sério no Brasil. Ainda é capenga, mesmo agora, em tempos de pandemia. O crédito para os pobres, o trabalhador informal ou microempresário é, além de tudo, salvador. Já imaginou o cidadão gerar o seu próprio trabalho e viver sem depender de patrão ou emprego público?
Tem muita gente que se vira, com a força do próprio braço. A expectativa é que se tenha no Brasil cerca de 40 milhões de trabalhadores informais. Ganham a vida no grito. O restaurante debaixo de árvores, na proximidade das obras da construção civil, na garupa da bicicleta vendendo pamonha, salgadinhos. Costura. Massagens. Manicure. É gente demais. A disputa é imensa pelos pontos de movimento nas calçadas. A grande maioria não tem conta em banco, e tem outros que nunca entraram num banco. Acho que o microcrédito teria que ser como um auxílio emergencial – direto na conta.
De qualquer forma, temos de aprofundar melhor o assunto para alterar e desconfigurar os usos e costumes do sistema bancário brasileiro, que é profundamente excludente. As massas populares não são vistas como empreendedoras e sim como problemas nacionais, que maculam as nossas ruas, becos, favelas e cracolândias.
O microcrédito é o novo. E é o mais antigo. Assim, para estimular, poderíamos, por exemplo, jogar esse dinheiro dentro das cooperativas de crédito, OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de interesse Público), Banco do Povo ou bancos comunitários, que sabem trabalhar com pobres, na base da confiança, e não das garantias, como o trivial nos cinco bancos dominadores do mercado.
Realmente, temos de mergulhar nesta seara. Fazer o dinheiro chegar a quem deseja criar o seu próprio emprego e ao mesmo tempo, ser considerado empreendedor. Como é que a gente faz para ele conseguir sair do auxílio emergencial, que está terminando em agosto? Esta é uma pergunta crucial: como é que esse cidadão vai viver depois?
O dinheiro não pode sair como auxílio emergencial, ele tem que sair como crédito, juro zero, juro negativo! Tendo um “baita” de um fundo garantidor para que os créditos fluam. Com um prazo maior, sendo administrado por quem sabe trabalhar com pobre, que são as OSCIPs e os bancos solidários, bancos comunitários.