Hoje eu recebi o escritor e amigo, compositor, músico, Zé Alencar, lá de Dianópolis (TO), e a esposa, Iara Araújo. Vieram me visitar, aqui em Brasília, e contar casos, né? Da nossa infância. Eu sou mais velho que eles, um pouquinho. Zé Alencar, desde jovem, adolescente, que já tinha uma tendência a ser poeta, escrever muito bem, fazer composições musicais, tocar violão, também acordeom.
Eles são preservacionistas, ambientalistas, têm fazendas, mas não criam o gado. O prazer deles é ver os rios perenes, é ver os animais retornado para aquelas fazendas, onde ao redor tudo já é desmatado, e lá, as deles são preservadas. Os rios caudalosos com cachoeiras. Eles não permitiram a construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCH) em suas propriedades, não aceitaram. São pessoas muito especiais e benfeitores da região.
O pai da Iara, Hagaús Araújo, foi deputado federal, deputado estadual, foi prefeito da nossa cidade (Dianópolis) e construiu uma base no passado, o Instituto de Menores para atender justamente famintos e miseráveis da região. Naquela época, havia uma miséria maior do que hoje. Era pior. Analfabetismo demais e ele passou a ser um benfeitor, educar esses filhos de miseráveis nesse centro educacional, que ele criou lá. Não sei como que ele teve essa ideia, e nem com que recurso conseguiu fazer isso, já que ele é um nativo da região. Mas ele fez tudo isso, e o seu legado é uma geração de doutores, servidores públicos, profissionais liberais, e também de comerciantes que nasceram ali. Vieram dessa instrução. Sem ele, não teriam tido essa oportunidade.
Por isso que falo aqui e defendo a educação como a base de desenvolvimento de uma região, e também do nosso país. Sem investimento na educação, formação de mão de obra, a gente não consegue. E eles fizeram isso na década de cinquenta, numa época difícil em que o Estado praticamente não existia, e aquele interior nosso lá era chamado de Brasil profundo. Não tinha estrada, não tinha ônibus, não tinha nada. Era uma região isolada do mundo. Para chegar lá era só quem tivesse um real interesse. Mas era uma região extremamente bela.
A região, como eu conheci, de Dianópolis, Barreiras, Piauí e Maranhão, é o sertão do livro de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, que retrata todos aqueles Buritizais, o sertanejo, a sua linguagem atípica, só deles mesmo, e um vocabulário desconhecido, que só eles utilizavam. Então, foi uma honra muito grande receber aqui esse casal de amigos, José Alencar e Iara Araújo.