Se o Trump resolver cancelar meu “visto” para os Estados Unidos, vou ser sincero: ele estará me fazendo um favor. Não irei mais aos EUA. E digo mais, nem vontade tenho.
Não sinto falta de caminhar pelas calçadas estreitas de Nova Iorque, sempre abarrotadas de gente apressada, nem de encarar a badalada Times Square com aquele excesso de luzes piscando. Museus e catedrais medievais já vi aos montes — e, convenhamos, também já passei frio suficiente em viagens. Nem mesmo o Central Park, onde tanto gosto de caminhar, me desperta mais curiosidade.
O que quero agora é rodar pelo Brasil. Conhecer nossos parques, nossas chapadas. Ir ao Jalapão, visitar o Lago do Cuniã, subir o Pico do Tracoá. Explorar as praias do Nordeste de ponta a ponta. E, claro, dar uma parada em Brumadinho, no Inhotim, onde a arte e o jardim botânico se encontram em um espetáculo só. Sem falar em navegar pelos rios da Amazônia e passar uma boa semana em Alter do Chão, no Pará, que é praticamente um Caribe caboclo.

Quero beber na fonte da nossa cultura, sentir o espírito de Mário de Andrade e Ariano Suassuna, declamar poemas em voz alta. Estou, francamente, cansado de museus de tortura, filas intermináveis e de bater perna embaixo de frio cortante ou sol de rachar.
E tem mais: troco sem pestanejar qualquer hambúrguer de metro — desses que lambuzam boca e nariz — por um prato de arroz com feijão e ovo frito por cima, bem brasileiro, sem frescura. Negócios nos EUA? Nenhum. Sinceramente, quero desfrutar o que temos de melhor por aqui.
Se Trump insiste em “América para os americanos”, que seja. Ele que fique com o pedaço dele. Eu fico com o nosso, que é mais generoso, mais bonito e, sobretudo, mais nosso.
E já deixo aqui meu recado: alô, Dimas, lá de Cerejeiras, em Rondônia! Pode me esperar, que logo mais vamos correr pelas estradinhas do Parque Corumbiara, admirar cervos, cobras, lobo-guará, onças… e, claro, fotografar aqueles 200 hectares de buritizais.

E aí, meu irmão, é servido uma tigela de açaí com farinha d’água?