No nosso acervo gramatical, uma palavra ganhou destaque nos últimos cinco, seis anos, embora já fosse conhecida deste os tempos de guerra fria: polarização. Neste texto, quero tratar dela, pois o momento exige que seja assim, uma vez que o mundo vive uma fartura de situações em que ela é utilizada como forma de explicar movimentos quase irracionais, de um lado ou de outro.
Ilustro isso com três exemplos bem atuais, que dominaram o noticiário mundial e nossas preocupações nos tempos recentes: 1) o ambiente político brasileiro a partir das eleições de 2018; 2) a guerra da Ucrânia X Rússia e, 3) a guerra de Israel e o grupo terrorista Hamas. Nestes três casos, a opinião publica (e os sentimentos das pessoas) ficou dividida entre um lado ou outro, sem predominância para nenhum. Nos três eventos, a polarização se cristalizou de forma definitiva, a ponto de termos defensores apaixonados dos dois lados.
Não quero tratar, aqui, dos casos da Ucrânia X Rússia ou de Israel X Hamas, pois não tenho elementos suficientes para contribuir com aqueles que estão de um lado ou de outro. Além disso, são casos que envolvem variáveis intangíveis, que dificultam a formação de juízo de valor. No entanto, quero me concentrar no caso da polarização ocorrida no ambiente político brasileiro. Esta, sim, tem a minha atenção – e a minha preocupação.
Construída em torno de duas teses opostas – para alguns, ambas radicais – a polarização política ganhou dimensões extremas quando produziram resultados violentos, incluindo mortes, desrespeito às normativas legais e, o mais grave, impregnou as partes opostas de sentimento de rejeição mútua, beligerante e renitente. Convencionou-se a chamar os lados de extrema esquerda e extrema direita. À medida que a polarização se consolidava, os ânimos se acirravam, as ações e discursos distendiam e o clima beirou ao conflito. Como resultado, pessoas presas, processadas e condenadas, inelegibilidade decretada, órgãos depredados e divisão estabelecida.
No meio de tudo isso, gritamos por equilíbrio, por bom senso, por mediação, centralidade. Nossa candidata a presidente propôs isso o tempo todo, suas propostas se concentraram no meio dos extremos, na não-distensão, no não-conflito. Isso ocorreu no plano nacional e, aqui em Rondônia, fizemos o mesmo.
O centro pode ser a solução para as sociedades em momentos específicos da história. Não se resolve distensão com mais distensões. Esta é a nossa convicção, desde sempre. Numa sociedade plural e complexa como a nossa, temos oferecido a nossa história e a nossa expertise para mediar conflitos entre extremos, entre interesses contraditórios, entre quem pensa em privatizar tudo e aqueles que querem privatizar nada, entre quem governa para os ricos e os que governam para os pobres, entre governos que defendem direitos e os que negam direitos, entre os que taxam muito e os que nada taxam, entre os que desperdiçam e os que poupam o que não deve poupar. No entanto, não abrimos mão de intervir fortemente sobre aqueles que negam, rejeitam ou destrói a nossa liberdade, nossa democracia.
O centro é a nossa vocação histórica. Isso pressupõe a convivência produtiva com os dois lados, sem preconceitos ou pré-julgamentos, mas com o alerta de que os excessos são nocivos e para eles os limites são inegociáveis. Não há espaço para o desiquilíbrio.
Com a clareza de que a polarização é um processo histórico – e não necessariamente bom ou ruim – continuaremos a guardar a democracia, a estimular a livre iniciativa, a assegurar a propriedade privada, a preservar direitos, a fomentar a competitividade, a fortalecer as instituições e os programas públicos e a respeitar os cidadãos brasileiros.