Minha avó vinha tocando a vida, como de costume, do Brasil rural para a urbanização lenta. Saindo e entrando nas décadas, 30, 40, 50, 60. E foi empobrecendo, sem saber dos motivos. Ela comprava, vendia, trocava mercadoria. Tangia tropas de Goiás para a Bahia. E da Bahia para Goiás. Foi entrando na vida, o que ela desconhecia, que era um fator novo – a inflação. Ela não sabia corrigir os preços dos seus bens por estes indicadores (juro, câmbio, abundância, escassez). E foi se corroendo sem se perceber.
Antes, valia o esforço do trabalho, na composição do patrimônio, além, de uma herança aqui, outra ali e a natural capacidade que tem o homem, nem todos, de fazer poupança e o faro fino para negócios. Outra coisa, que sempre existiu, foi o que se pode chamar “de passar a perna” no outro, para se dar bem, quando se cochila, o cachimbo cai. Depois das grandes guerras, do Século XX, sempre houve um tempo da prosperidade do capitalismo.
A tecnologia foi outro componente importante. O avanço do mercado de capitais. O surgimento dos grandes bancos, concentradores da riqueza. E este jogo, complexo, foi extremamente concentrado. O admirável mundo da esperteza, das projeções, da criação e superação das crises. Pois nelas, é indispensável a oportunidade de se aumentar a riqueza ou de perdê-la. Mesmo em países bem regulados, a esperteza e o jogo da conveniência, esteve presente, como a crise econômica de 2008, iniciada nos Estados Unidos.
Entrar neste jogo de quase “loteria” é muito perigoso. Quando se pensa que vai ganhar, termina que alguém, invisível, lhe passa a perna. E tem mais uma, não tem para quem se reclamar. É o jogo das cartas do mercado. Minha avó sucumbiu antes, mesmo sendo, extremamente trabalhadora.