Não creio na lenda do pecado original. Que desígnio maldito é o de se nascer em pecado para sempre imperdoável? Sou daqueles que pensa diferente – o homem nasce igual ao outro homem. Qualquer que seja a mãe ou pai, naquele exato momento, o do nascer, ele é exatamente igual a qualquer outro. Agora, meu irmão, depois que nasceu, daí pra frente tudo pode ser bem diferente. E é muito diferente.
Vamos sonhar alto. De agora em diante todas as crianças nascerão iguais. Receberão leite materno até o oitavo mês, terão fraldas, roupas limpas, banhos, amor. Nunca faltará comida a ninguém. Nem escola boa. Nem brinquedos. Nem roupas. Será que o mundo seria melhor ou o pecado original puxa-nos obrigatoriamente para baixo e nos coloca a todos no inferno de nossa própria situação, inapelavelmente caótica e injusta?
Fernando Henrique certa vez disse – temos uma geração perdida. Foi muita coragem dele dizer uma verdade deste tamanho. Qualquer um poderia dizer isto, menos um político. Mas, ele disse. E o que estamos fazendo agora, para que venha outra e mais outra geração também perdida? Pouca coisa. Se tudo continuar assim, seremos produtores de gerações perdidas.
As coisas podem ser resolvidas gradualmente. Por ação direta do homem ou por influencia direta da própria natureza. De tal forma que os acontecimentos vão colocando os pontos nos “is” no seu devido tempo, como disse Eclesiastes – “tudo tem o seu tempo certo”.
Eu sou bem mais ignorante – prefiro atropelar o tempo e gerar uma crise, uma crise forte, profunda, tal qual uma guerra, para depois dela a gente poder reconstruir a sociedade numa nova base e ordem. Eu prefiro o tranco e logo para que se possa mudar alguma coisa e quebrar a monotonia da natureza que é extremamente lenta na sua tomada de posição.