No início da colonização de Ariquemes, com a imigração de gente branca, principalmente gaúchos, catarinenses, paranaenses, eles chegavam sem conhecer a região. Vinham assim na tora, vinham pra cá atraídos pelo sentimento e pela ambição de ter uma terra própria, ter uma fazenda.
Lá eles eram boias frias, pobres, e vinham para Rondônia pra começar com a terra própria. E vinham com as famílias sem conhecer a região. Aquelas famílias grandes, todos branquinhos, em grande parte, e não conheciam o poder do pium, do mosquito conhecido também como borrachudo.
O pium é uma desgraça, era uma nuvem de mosquitos sobre a pessoa. Ele é misterioso, porque ataca e a pessoa nem sente ele encostar. Só vê o barulhinho dele rodando a cabeça. Ele agarra nas pernas e nos braços e você não sente. Depois que dá picada, que ele enche o bucho de sangue, é que dói. Aí você dá o tapa, mas ele já voa, então morre ali.
Mas tinha pessoas ficavam com o corpo todo encalombado, uma coceira danada, uma dificuldade terrível, e uma alergia. Terminava que essas meninas, essas moças, esses rapazes indo embora, porque não aguentava o mosquito. O mosquito era poderoso.
Então parece que o mosquito estava mandando de volta as pessoas, parecia que não queria que a pessoa chegasse na Amazônia, porque derrubava as árvores, e quando derrubava a árvore a mosquitada que está por cima, desce.
Inclusive a leishimaniose, o mosquito phlebotomus, que é diferente, popularmente chamado de úlcera de bauru. Que é o outro. Ele provoca a leishmaniose e causa feridas bravas. Essa ferida quando dissemina, ela vai na mucosa do nariz, destrói as narinas, fica um buracão. Uma ferida esquisita.
Então, foi assim a colonização, onde o mosquito piúm foi um divisor de águas. Ele espantou muita gente e, apavorados, voltaram pra casa. Muitos colonos vieram e depois voltaram, porque não aguentavam o efeito da picada do pium.