O título é interessante: sujo. O autor é Ferreira Gullar. Maranhense de Alcântara. Foi exilado durante a ditadura militar na Argentina. Queria voltar e não podia. Era correr perigo. Ele começou o poema: “turvo turvo/ a turva mão do sopro contra o muro/ escuro/ menos menos/ menos que escuro/ menos que mole e duro/ menos que fosso e muro: menos que furo…” Escrito em 1976. Tem que ser lido devagar. Relido pelo menos 50 vezes.
Poesia é a expressão da alma, a fala do sonho, a fantasia. Não precisa ser entendida, melhor que não seja, tem poderes mágicos, o leitor fica com a cara de bobo, muitas vezes, mistura simplicidade do dia a dia, a insignificância, até a importância das cores, do jogo das palavras, dos trancos nas frases, da mistura de assuntos.
A poesia pode mostrar o outro lado do humano, a sua desimportância, até a sua igualdade dentro do complexo da vida na terra. A poesia brinca com palavras como se fossem bolas de gude. As letras das músicas escondem poemas incríveis, vadia com as emoções e exalta os sussurros do amor, a linguagem secreta da intimidade.
Poema Sujo trouxe de volta Ferreira Gullar ao Brasil, o poema foi sua lei de anistia, como se vê poema pode salvar. Por incrível que pareça — poema enche barriga. Ainda mais quando nasce da urgência e da verdade.