O uso da máscara pegou. Ninguém estranha outra pessoa por estar usando máscara. Virou até moda combinar a cor da máscara com blusa, saia e sapato. Até mesmo com o esmalte das unhas. A gente ficava olhando as mulheres muçulmanas, cheia de roupões, turbantes, rostos escondidos. Nos parecia tão estranho. Hoje, estamos quase imitando os muçulmanos. E tudo na maior naturalidade.
A pandemia nos incutiu um medo de falar com outra pessoa. Mesmo com máscara. De cruzar na calçada, e pegamos um jeito estranho de nos desviar uns dos outros. De certa forma, pegamos medo do outro. E tem lá suas razões, quem vê cara não vê coronavírus.
Tem gente que pegou firme no isolamento social. Não sai de casa nem a pau. E passou a ver um mundinho pequeno, aquele que a janela permite ver. Agora, maioria do nosso povo não pode viver no isolamento. Porque se isolar como se deseja, o cara morre de fome e toda a sua família. Não há jeito. Tem que pôr o nariz na rua e se virar.
O mais grave é o transporte coletivo. Ônibus cheio até a tampa. E o esfrega-esfrega continua do mesmo jeito. Gente sentada. Gente em pé. A única coisa possível de fazer num ônibus cheio é fechar os olhos. E se puder, enfiar uma rolha de cortiça nas narinas.