É isto mesmo. Quando vim para o Senado, eu tinha comigo uma coisa na cabeça, o de ser perturbador, o de ser um desses caras chatos, que se empertiga a crista por qualquer coisa; o que sai por aí a fazer críticas pelos quatros cantos e semeia irreverência e descortesia. Sempre gostei do ajuste fiscal. Do colocar as contas públicas em dia. Do acabar com a farra de privilégios. Essa malandragem crônica que o Brasil tem desde o império.
Fui visitar Clarice Lispector no seu poema “se eu fosse eu” e percebi que seria mais feliz por ser eu mesmo se colocasse em prática o pensamento original, o de ser um perturbador da ordem, que quebra regimento, extrapola o tempo e aborrece a quem quer que seja, com o meu pensamento questionador.
Segundo Clarice, eu seria bem mais feliz se eu fosse eu, mas, infelizmente, eu concluí que eu não sou eu, e nem coloquei o meu projeto prioritário de ser um insurgente em prática. Por isso fico triste! Porque eu não mudarei o Brasil e não aborrecerei ninguém.
Porque o Senado precisa de mais gente, que não precisa ser gente, para dar um grito de independência bem forte, ou morte, a rapar o pé, com coragem e até alguma “irresponsabilidade” para dar um choque, uma eletroconvulsoterapia, no parlamento, para dar tudo certo. Porque o doido está do outro lado. E pouco doido aqui. Meu pai dizia – “com doido, só doido e meio”. Não dá certo. Os doidos devem estar em todos os lugares. O choque será bom para que seus neurônios se expandam.
E uma luz se acendesse. E se pudéssemos arrumar o país, somente seria possível se nós todos fossemos nós mesmos. Enquanto a alucinação não vem, vamos seguindo o bordão de sempre. Agora, mais agravada, porque o “corona” resolveu colocar freios na humanidade. A mensagem dele ainda não ficou bem clara. Mas botou todo mundo no seu lugar. Dentro de casa.