Vou inventar um nome aqui. Aliás, nomes. Porque falar em manter reserva de índio, florestas nacionais ou parques é motivo para ser assassinado. O nome dela é Flor. Há tanto tempo que de um lado a Flor grita. E do outro lado, uma magricela e inquieta, seu nome é Santa, também labuta pela mesma causa.
Flor quer o Parque Nacional de Pacaás Novos – (Campo Novo de Rondônia) intacto e belo, tal qual a natureza o construiu. Santa abraça o mundo. Entra no mato, salta toco, atravessa igarapé e encara o risco. Até parece sobrenatural. A causa dela é a Reserva Indígena Uru-Eu Wau-Wau.
Tanto Flor quanto Santa se imbricam numa vizinhança geográfica. O que sempre foi plano, coberto de floresta densa, vai se transformando numa revolução geológica, eis que se descortina o Parque de Pacaás. Estou olhando para o céu. Procurando algum adjetivo, bem bacana, para traduzir os paredões espelhosos, os bichos raros, a vegetação “savanosa”, as nascentes nas pedras, as quedas d’água, platôs elevados que vigiam o mundo inteiro.
Santa e Flor querem as mesmas coisas. Que deixem a Reserva Uru e Parque Pacaás em paz. Porque o homem, o outro homem, o homem do mal, não vê o que elas, mulheres, veem. O homem do mal, desrespeitoso, cruel – além do furto da madeira, quer que tudo seja pastagem.
E para onde irão os índios Urus? Para onde voará o “gavião real”, ave rara e exclusiva do Parque? E o “macaco aranha”, que habita as gretas das pedras? E as nascentes de quase todos os rios rondonienses, que nascem ali?
Eu indago: – quanto vale um rio? Quanto vale a Reserva Uru em pé? Quanto?
Não poderiam existir gente mais valorosa no mundo – do que Flor e Santa. Flor Santa. Santa Flor. Santíssimas flores da Amazônia.