Gente, já participei de dez campanhas políticas. Perdi as duas primeiras, mas ganhei as oito seguintes. E posso dizer: nenhuma campanha é igual à outra. Cada uma tem sua história, seu momento, suas surpresas. E agora, com a era da internet e dos celulares, tudo mudou. Mudou demais. Às vezes, a gente nem sabe direito como agir, como se posicionar, como fazer campanha nesse novo cenário.
Antes, minha forma de fazer campanha era corpo a corpo: visitando, abraçando, conversando. E, claro, de vez em quando, um comício. Hoje, os comícios quase desapareceram. O que se vê são pequenas reuniões, gravações para rádio, TV, redes sociais… tudo muito diferente. E no meio disso, uma avalanche de fake news, de mentiras circulando por aí. É uma confusão danada.
Na foto aí em cima, por exemplo, estou fazendo campanha como nos velhos tempos. Todo encharcado, na chuva, chegando a Buritis. Naquele dia, desci de uma carreata debaixo de um temporal. Me molhei todo. Mas era assim que fazíamos: visitando municípios, conversando com as famílias, sentindo o calor das pessoas.
Lá nos anos 1950, quando nem rádio ou TV se usava direito, campanha era no olho no olho, no aperto de mão. Distribuir um panfleto e apertar a mão de cada eleitor na rua era fundamental. Se dois médicos ou dois advogados disputassem a eleição, vencia aquele que mais cumprimentasse as pessoas, que mais pegasse na mão do povo.
E vou te dizer: esse gesto ainda tem um valor imenso. O aperto de mão carrega uma energia especial. Você se aproxima, estende o braço, toca o outro. Isso ainda vale — principalmente para os mais velhos, que gostam de ver o candidato pedir o voto diretamente.
Eu fazia campanha assim, no porta a porta. Em Ariquemes, batia de casa em casa, começava às sete da manhã. Chegava, cumprimentava:
“Sou médico, sou candidato a prefeito, vim pedir seu voto.”
Deixava o santinho e seguia. Não dava tempo nem de aceitar um cafezinho. Nada de “senta um pouco”, “espera o café coar”. A meta era visitar de 150 a 200 casas por dia.
Era esse o ritmo. Rua por rua. Casa por casa. Hoje, não dá mais pra fazer desse jeito. Uma campanha majoritária exige percorrer o estado inteiro. Não dá pra pegar na mão de todo mundo, nem pra visitar cada casa.
Agora, o foco está na mídia: outdoors, rádio, TV, redes sociais. Você envia sua mensagem, fala suas verdades — e espera que elas cheguem a quem precisam chegar. A decisão, na maioria das vezes, acontece nos últimos quinze dias, ou até na última semana. Às vezes, quem estava lá embaixo nas pesquisas vira o jogo.
Porque a comunicação na política não está só no rádio, na televisão, no TikTok, no Facebook ou no Instagram. Existe o que eu chamo de “comunicação subterrânea”. É uma corrente invisível, um tipo de eletricidade que passa de vizinho a vizinho, de muro a muro. Ninguém comenta, ninguém combina, mas no fim, quase toda a rua vota na mesma pessoa. É esse fenômeno misterioso que provoca as grandes viradas.
Campanha tem seus mistérios. E não é fácil. Cada uma é única. Hoje, me preocupa muito a gastança. Muita gente se endivida, pega dinheiro a juros, vende carro, vende casa… tudo por uma eleição. Por isso, eu deixo um conselho sincero: faça campanha com os pés no chão. Não sacrifique sua família, nem seu patrimônio.
Para quem tem poucos recursos, o melhor é começar cedo. Visitar as pessoas, reunir amigos no fundo do quintal, fazer encontros pequenos, conversar aqui e ali, espalhar a mensagem aos poucos. Assim, a campanha vai crescendo devagarzinho, mas com consistência.
É esse o caminho que eu trilhei. E com a experiência que carrego, é o mesmo conselho que dou — para mim mesmo, e para quem está apenas começando.