Toninho Zotesso é o cara. Não sei até que série estudou, mas tenho certeza de uma coisa: ele daria um baile em muito ministro da Fazenda por aí. No Brasil, só se fala em ajuste fiscal — gastar com responsabilidade, não fazer dívida, não comprar o que não pode pagar. Pois é, nisso o Zotesso é mestre.
Ele vive no sítio, cuida das vacas de leite e das criações de quintal. Foi eleito e reeleito prefeito de Teixeirópolis (RO). Nunca pisou em Brasília, nunca pediu favor a ninguém. Se pediu, não fiquei sabendo. Nem um telefonema para pedir recurso para o município. É do tipo que resolve tudo com o que tem em mãos.
Zotesso não entende de computador e nem quer aprender. É homem de poucas palavras — se você não puxa assunto, ele fica quieto, sem rodeios nem conversa fiada. As contas da prefeitura, uma por uma, ele anota na caderneta que carrega no bolso da camisa. Tudo ali: receita, despesa, centavo por centavo.
Lembro quando a Mariquinha, ex-vereadora, me pediu recurso pra comprar uma ambulância e uma van pro transporte de pacientes. Eu mandei o dinheiro. Zotesso? Nem ligou. Não comprou nada. Mariquinha insistiu, dizendo que era importante. Ele apenas pigarreou e respondeu: 
— “Pra quê mais carro? Já tem uns três ou quatro no pátio. Se comprar mais, vem gasto com gasolina, motorista, pneu, manutenção… não quero não.”
E pronto. Ninguém conseguiu fazer ele mudar de ideia.
Todo santo dia ele conferia as contas da prefeitura na caderneta. Economizava tostões com o cuidado de quem guarda o próprio salário. E o mais curioso: sempre tinha uma reserva — coisa de até oito milhões de reais, dinheiro do próprio município. Quando uma ponte caía, ele já tinha verba guardada pra consertar.
Num país que gasta mais do que pode e ainda quer ensinar economia aos outros, o Brasil bem que podia nomear o Zotesso ministro da Fazenda. Com ele, não tem arcabouço fiscal nem planilha eletrônica: o ajuste é no bico da caneta e na ponta da caderneta. E nem Jesus Cristo faria o Zotesso gastar sem ter fundos pra pagar.