Se alguém morreu nos anos quarenta ou cinquenta e ressuscitasse hoje, ele teria muita dificuldade em conversar com os jovens. Até mesmo com os velhos. Com estes, nem tanto, porque puxariam lembranças. E teria alguma coisa no vocabulário comum.
Também, teria dificuldade em entender-se nos shoppings, nas lojas de departamentos, nos supermercados. Naquele tempo havia o balcão. O vendedor de um lado e o cliente do outro. A balança com pesos de pescoço, o saco da farinha, de feijão, até mesmo os açougues, o boi esquartejado, pendurado nos ganchos, agora, carne congelada e dentro de refrigeradores.
O forno de barro, na forma de cupinzeiro, dentro de casa, onde se assava as quitandas, a lata d’água na cabeça, as trouxas de roupas sujas para serem lavadas no riacho, o banho de caneco, a latrina no fundo da casa, a desmancha da mandioca, o engenho puxado por juntas de bois, além do carro de boi chiando, carregado de pedra ou lenha. Não havia gás no interior do país. Nem geladeira. As rezas, catiras, folias. O rádio que vinha de longe, notícia chiada e jornal tardio.
Palavras fora de moda – tapiti (tipiti), quibane, baladeira, pilão, pote, moringa, carocha, bica. E tanta fartura de frutas nos quintais, não existia veneno na lavoura e nem adubo químico. A não ser formicida para matar saúva. Imagine, meu irmão, como este ressuscitado se entenderia no mundo de hoje? Com Internet, TV a cabo, computador, celular, aeroportos, aviões, roupas prontas, whatsapp, download, tênis, cirurgia plástica, motel. Senhor! Senhor!
Muita coisa mesmo. Principalmente, na criação de filhos. Menino não dá bênção a pai e mãe. Não se usa mais a palmatória. Filha que sai a noite e não fala hora que retorna. Menino agarrado no celular, que fica surdo aos chamados. Que não se pode mais corrigir o filho com chicotadas. Filho correndo dentro de casa quando os mais velhos estão com visitas. Estas coisas todas.
Acho que o ressuscitado pediria para morrer de novo.