Medir o tempo por dias, por meses, por horas, anos – uma criação de sabedoria. Porque o tempo não tem como ser medido, ele é extenso, muito extenso, como se diz, universal, utópico, global, vem a lua com suas fases, vem as estações com suas flores, vem o sol todos os dias, e no sertão, onde nasci, só havia duas estações: verão (seco) e o inverno (chuvoso).
Agora, fim de abril de 2020, que deve ser igual aos outros abris de todos os anos, salvo a mão humana, marcando o mês com suas revoluções, que não alteram em nada, o ritmo do abril em si. E por falar neste mês, deste ano, está bem diferente, o homem bem acovardado, metido em casa, com medo de um ser invisivel.
De tão minúsculo até parece um fantasma, uma alma do mal, este serzinho, que não sei se vivo ou morto, se molécula ou não, certo que é uma arrumação genética, conhecida com o nome de RNA (ácido ribonucleico), fantasminha redonda, cheio de chifres, que parece algum ser animado que ronda o espaço.
No abril se planta a safrinha do milho, maravilhosa invenção da pesquisa, o milho que se vende para o mundo, para dentro do país. É a ração. É o etanol do milho. É pamonha, é cuscuz. Ótimo mês para as hortas caseiras.
E as chuvas ainda caem. Maio serão poucas pancadas. Depois o período seco, onde o capim enfraquece, os riachos secam ou ficam minguados. O Rio São Francisco não parece ser o que era, os igapós, igarapés e até rios grandes da Amazônia se abalam.
Vamos palmilhando a estrada, de salto em salto, até dezembro chegar, enquanto isto, quando puder, voltar a ter fé, na procissão infinita, clamando para que o próximo abril, que pode ser igual, como no trivial será, lá, no outro, pelo menos sem o bendito coronavírus, mas, a safrinha de milho e de melancia será ainda melhor.