O sino não parava de tocar, Raimundo Vogado era o mestre do sino. Tinha a pancada certa, tinido choroso. Ficava ali acocorado, puxando o badalo no tempo da procissão. Ele entendia a toada exata para agradar São José.
Ali no entrecosto do que se chama hoje, ou poderia se chamar de MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), acotovelado de estados, sem marcação das terras, e termina que ninguém sabe onde pisa e você pode estar em qualquer dos estados, de boa ou má fé.
Eles se imbricam por ali, no meu tempo de menino, que era sertão bruto, de campinas e veredas, buritizais a perder de vista. A bicharada à solta, emas, gado curraleiro, veados, tatus e bandos de aves no céu claro. O sol de rachar pedra de calcário, nem um pingo de chuva, nem as promessas de fé davam jeito.
E nesta agonia, sem água para o gado, capim provisório seco e derretido pelo fogo, sem roça plantada, sem ter esperança de ter o que comer. O único apelo era o padroeiro de Dianópolis, o milagroso São José. E toda a gente, espremida na agonia, se entrega a ele, para sentir dó daqueles pecadores, no dia 19 de março, o dia do Santo.
Depois da procissão, todo mundo andando e rezando, santo no andor, carregado sem se mexer, para não se aborrecer, volteando as ruas, subidas e descidas, rezando, com potes d’água na cabeça, latas cheias de água, promessas difíceis de serem cumpridas, uma energia concentrada, clamor soturno do sertanejo simples, de que nosso santo, nos desse a benção e a graça de chuva molhadeira para arribar a vida naquela terra e comida para o seu povo. E, geralmente, tanta fé e devoção a chuva vinha.