Tem alguma vantagem em ser velho. A vaga para o carro escrito na tabuleta “vaga para IDOSO” em letra maiúscula. Pagar meia entrada em eventos, cinemas, teatro, shows. Pode-se ter alguma tolerância com as naturais distrações. A irritação que se causa nos outros, com os esquecimentos.
No ônibus você morre de raiva, mas, fica em pé mesmo. Porque a turma da juventude finge que está dormindo. As farmácias adoram velhos para ficarem fidelizados nas compras mensais de remédios para dormir, pressão alta, diabetes, cremes para rugas, vitaminas, Viagra e mais os mil e um “achaques”, como dizia minha avó.
Tive a honra de viver noutro tempo, varando aos 50, bato o pé: “aquele tempo” era melhor. Os meninos de hoje não terão oportunidade de ver uma farinhada. Só querem saber de celulares. As mulheres raspando mandioca e cantando. Lavando. Os homens puxando a “bulandeira”, uma roda com manivela, uma tira de corda ou couro ligando com um ralador e bota velocidade no braço, força e suor de escorrer. Desmanchar a mandioca. Separar o líquido do que é sólido. A prensa faz este serviço. Peneirar a massa. Escorre na bica o líquido branco. No tacho grande vai-se rastelando, até secar e chegar ao ponto. A farinha pronta. Pode-se fazer o beiju. Separar a tapioca do líquido espremido. E vai-se assim. A farinhada era uma festa, um mutirão.
A moagem da cana, era outra festa memorável. O engenho de tronco roliço, puxado por junta de boi, rodando, o caldo enchendo os tanques, depois, a rapadura, o açúcar mascavo, o melaço, e pode-se fazer cachaça. Na minha terra, o restilo, uma bebida com teor alcóolico, de 50%, que não pode tomar muito, porque sobe rápido e o camarada cai de maduro mesmo. Todo este movimento de moagem da cana, com seu ritual e muita gente, maioria trabalhava de graça, trocando dias de serviço.
Vou parar por aqui, com estas historinhas, que poderiam avançar ainda mais como as pamonhadas, bolos de milho, curaus e bebidas do milho. Além das procissões, dos leilões no pátio da igreja, das ladainhas, novenas, catiras e das folias de muitos santos. E das fogueiras de São João, onde se pisava na brasa viva e não queimava a sola do pé. Se fazia juras de compadres e até promessas de casamentos. Assim, no tico e no taco. Tempão bom, sô.