Entre o Natal e o ano novo de 1975, eu fiquei perambulando entre Espigão do Oeste, Pimenta Bueno e Cacoal. Caçando um lugar para iniciar minha vida de médico. Sempre quis trabalhar numa cidade pequena e do interior. As “vilas” de Rondônia ainda estavam se arrumando. As casas de madeira. As ruas de chão batido. Ora poeira ou lama.
Fui visitar um colega médico no dia primeiro de janeiro de 1976, no seu hospital improvisado. Era um argentino que havia concluído o curso médico em Goiânia, na mesma faculdade que eu me formei. Ela estava numa resseca daquelas. E no seu “pronto socorro” estava um colono, polaco, gordo, cerca de 45 anos. Foi esfaqueado naquela noite de passagem de ano.
O colega me pediu para acompanhá-lo ate Cacoal, na Clínica do Ildevar Munin, Hospital São Luiz. O paciente estava consciente, gemia, ele mesmo comprimia uma compressa sobre o ferimento na barriga. Deixei-o com o Ildevar, que não gostou da entrega e disse que não tinha condições de operá-lo. E o enviou num jeep para Ji-Paraná.
Eu continuei pesquisando a “vila” onde poderia me estabelecer. Havia uma euforia de crescimento no Território de Rondônia. Todo mundo sonhando alto. Depois de 7 dias cheguei a Ji-Paraná. Fui saber notícia do “meu” paciente no Hospital do Governo. Infelizmente, havia falecido.
Foto de indígenas cinta-larga, na vila Espigão: Marcos Santilli.