De leste a oeste, dentro do ônibus, tocando a vida entre cochilos e visões do Brasil tão grande, tão místico e colorido. Não só de cores vive um país. Foi-se o primeiro dia, dois e eu ali, parando nos pontos certos. As malas, as bolsas, as pessoas que vão ficando cansadas, transmutando-se em outros seres descompostos. Mais sendo o lado natural, íntimo, e esquecendo-se das decências cerimoniosas.
O banho, a escovação dos dentes, o lanche, o almoço rápido ou sem ele. Dá para se ver o Brasil novo bem de perto. Vai-se dando curvas, e o Brasil está ali à frente. Para os jovens sempre foi assim mesmo. Aos mais velhos, o direito de divergir. As cidades mais bonitas. As notícias imediatas pelo celular, onde haja Internet. As lavouras extensas, que beiram a monotonia. O verde baixo e intenso. Cromoso e carnificado.
Dá para esquecer que existe o mundo diferente. O gado pastejando. Ou os confinamentos de bois, aos milhares. Difícil a comparação do Brasil de hoje com o dos anos setenta. Quando passei por estes caminhos de Bandeirantes. O ônibus, monstro corajoso, em guerra contra um inimigo nos desvãos do mundo. Aqui e ali, os despenhadeiros, atoleiros, areiões sem fim. O cerrado bravio e torto. Hoje, não, lavouras. Cidades minguadas. Agora, outras, lindas, artificiais e brilhosas.
Quando menos percebi já atravessei Minas Gerais. Agora, Goiás. Passou a ponte do Rio Araguaia, Barra do Garças, a porta por este rumo, do Mato Grosso. Vou. Em metamorfose entre o que entrei e o que sou agora. Incrível, subi a serra, Cárceres, Pontes de Lacerda. Eureca!!! Rondônia. O meu cheiro de convivência mais íntimo. Meu coração de sangue e afeto entremeados.
O que mais quero, agora, é um banho de verdade. E abraçar o meu bem mais precioso, a minha história de construção.