Transcorria os governos militares no Brasil. Eu me formei em medicina em 1975. Já era casado. Pai de duas filhas. Os generais Garrastazu e Geisel já vinham tocando o projeto de interiorização do Brasil. Eram preocupados com a Amazônia, imensa e sem gente. O lema era “integrar para não entregar”.
A mecanização da agricultura foi iniciada. Boias frias do sul e sudeste ficaram sem empregos. Mudavam-se para as cidades grandes. Favelavam-se. A ideia era levar este povo descamisado para o Centro-Oeste, Amazônia, região de Balsas no Maranhão e uma ponta de Minas Gerais, ali por Paracatu. Promessa de terra para quem não tinha. Crédito para quem precisasse. E mais incentivos para quem quisesse trabalhar.
O colono tinha que meter a cara na mata. Machado ou motosserra, derrubar a floresta e plantar. Ou criar. Eu li num jornal sobre isto tudo. E me interessei. Peguei o rumo do Território de Rondônia. Queria iniciar num lugar que não tivesse outro médico. Queria do zero. Sem concorrência.
Quando cheguei a Ariquemes a cidade não existia. Era um vilarejo, circunscrito à beira do Rio Jamari. Casebres cobertos de palha ou de telha Brasilit. 99% de madeira. Eu não tinha emprego. Nem promessa de emprego, e resolvi acreditar no futuro. Na propaganda do Governo.
Abri o consultório improvisado, num casarão que era no passado um depósito de minério. Metade era consultório com umas quatro camas que mandei o Tarciso fazer. Puxei um “rabicho” de luz do gerador de um vizinho. A outra metade do barracão ocupado por duas famílias. E no ano 1976 foi chegando gente. Todo mundo animado. Aquele furdunço. A malária pegando feio. Muita gente morreu.
Comecei atender este povo. Mosquito pium fazia um inferno na vida dos chegantes. Perebas de tanta coceira nos braços e pernas. Eu ali. Fazendo “atestados médicos” para os colonos pegarem lotes de terra. Por fim, o Governo do Território (Coronel Humberto Guedes) derrubou uma grande árvore e estava lançada ali “a pedra ou árvore fundamental da futura cidade de Ariquemes.