Não posso mentir sobre o meu isolamento social nesta pandemia. Não foi radical. Até que fiquei em casa, quietinho, olhando fixo na janela, vendo a vida rolar na rua. De sexta-feira a segunda fui mais ortodoxo.
Alice (esposa) foi radical. Ficou mesmo, como se diz: mofando em casa. Esta sim, reparou detalhes de luzes, gente que passa sem máscara, trabalhadores dos prédios vizinhos. Ficou antenada na vida do intimismo. Até tentei tirá-la de casa para caminhadas. Em vão. Cheguei a matriculá-la com o Hugo (personal trainer). Aceitou, depois voltou atrás. Disse – que não seria a hora.
Usei máscara todos os dias. Dei voltas nas quadras puxando a Mivi pela guia (Cadelinha de estimação que tomou lugar de um filho). Sou, agora, pai de uma cadela shitzu. Fui ao mercado algumas vezes, às farmácias, padarias.
Toquei o home office com bom desenvolvimento e gostei. A produtividade foi ótima. O Senado votou até em alguns sábados. Presidi às sessões e audiências públicas da Comissão da Calamidade em Saúde.
Não fui um modelo exemplar de obediência ao isolamento completo que a pandemia exige. Como brasileiro, cumpri, muito bem, as outras recomendações – lavei as mãos como nunca, ressequei a pele com o álcool 70%. Só faltei beber litros dele. Por outro lado, dei lugar para alguns goles de uísque. Tomei mais banhos que o comumente faço. Até passei por duas cirurgias nos olhos. Saiu o cristalino, entrou uma lente artificial bem fina.
Li relatórios sobre o desempenho dos programas criados para pessoas e empresas. Estou ficando craque em contas públicas, créditos e análise crítica dos modelos econômicos em vigor, na maioria dos países do mundo. Passei a me incluir no grupo dos insurgentes. E a pandemia continua dominando as reportagens e metendo medo em todo mundo.