O salto no escuro (uma história da pandemia COVID-19) Capítulo 51

O salto no escuro (uma história da pandemia COVID-19) Capítulo 51

Faz um ano que a pandemia nos atormenta. O que era para ser breve vai se esticando, como as realidades que não queremos ver. Um ano que parece tão longo. Tem aparência de já ter se passado vários anos dentro deste ano, de março a março. Vamos indo.

De certa forma, até acostumando com as notícias de cada dia. E vai se morrendo, superando os números do dia anterior. O horror parece não ser tanto horror assim, dito pelos números. Não mais nos desperta indignação e vontade de ir para a rua protestar.

Também, não se pode ir para a rua protestar. O vírus quer aglomeração para propagar. Então, o nosso cérebro não registra mais a significância dos números. A matemática diária é de um espanto abafado. Como se fosse de uma singela reação de poucos neurônios.

Agora, labutamos também com a escassez de insumos essenciais. Aqueles que doentes de COVID-19 precisam tanto. O oxigênio, por exemplo. Igualmente, medicamentos para intubação e sedação. O doente de COVID é como um afogado, morrendo no rio cheio, arrastado pela correnteza. O ar tão necessário que lhe falta já está escasseando nas “balas” de ferro ao lado do leito.

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