Nem falo os anos antes de mim, porque eu não estava lá, falo neles. Vou dizer pra vocês do Brasil rural, do Mazzaropi e de um pedaço que vivi.
Vou dar um salto grande agora. Fui à feira no domingo passado, tem uma barraquinha que vende produtos orgânicos, quase ninguém para nela, verduras, legumes e algumas frutas. Ando pela cidade, há restaurantes de “comida natural”. Para mim é a mesma coisa. O orgânico e natural.
Porque anos cinquenta, sessenta, principalmente, estas décadas, no Brasil profundo, interiorzão de pouca gente, que pode se chamar de sertanejo, tudo bem, era sertanejo ou caipira. Pode ser. Sem televisão, sem geladeira, quem tinha rádio era rico e no mais, vaca na praça, jumento urrando, lua mais cheia do mundo, tamarindeiro coposo, porco engordando no chiqueiro, galinhas soltas no terreiro.
A cidade comia por igual. Na roça de milho, arroz, mandiocal sem nenhum veneno, nem se falava em veneno, gado curraleiro no sal branco e no capim provisório, cura de bicheira com creolina ou reza brava. Fubá de milho socado no pilão, peneirado, para o cuscuz ou bolo. Banha de porco ou azeite de coco catulé. Arroz socado no pilão, com uma, duas ou três pessoas. Um ritmo inesquecível.
Até alegria se tinha em socar no pilão. Biscoitos e bolos assados no forno de barro, tipo cupinzeiro. Ninguém se atinha a produtividade, nem a inovação. Já tínhamos a inovação: o monjolo e o carro de boi. Pra quê mais? Hem!!! Canjica, arroz de leite, doce de mandioca, batata.
A farinhada no tempo certo. Juntava gente no mutirão.
A moagem da cana, engenho de tronco roliço, bois circulando, moendo, tacho fervendo, a rapadura, o “tijolo” (rapadura com mamão ralado, coco, mais e mais).
Hoje em dia, comida orgânica e natural parece luxo, para nós, não, era o costume, o que se comia numa casa, era o que se comia na cidade inteira. Tudo orgânico e natural e a sobremesa era doce de buriti. Pode encher a boca d’água, cara! Era assim – orgânico e natural.