Cara, nem vou falar pra vocês quem é de verdade Mister D.G., isto para não caçar encrenca. O homem ainda está vivo e sadio. Ele fazia parte da tropa de choque do MDB de ferro. Chegamos ao ponto de termos um jornalzinho quinzenal em Ariquemes só para falar mal do Amorim (ex-prefeito). O jornal chamava “Câmara Aberta”. A gente rachava as despesas, contratava um chargista de Porto Velho, mais ou menos como aquele jornal francês Charlie Hebdo, que mexeu com com Alá e levou uma saraivada de bala do Estado Islâmico. Nem tanto, era um jornaleco, que nós mesmos escrevíamos.
D.G. fazia o horóscopo, eu o editorial e cada um dos fanáticos do MDB escrevia uma bobagem qualquer. Meu irmão, ninguém podia ler o Câmara Aberta na Prefeitura e nem na Câmara. Não havia jeito, a gente soltava o jornal na madrugada, debaixo das portas, para os funcionários na entrada para o serviço. Todo mundo escondia. Lia no banheiro. Ria de morrer. Só se ouvia os comentários depois.
Deixe isso pra lá. D.G. sempre foi um homem sistemático. Avesso de nascença à corrupção. Eu o coloquei como chefe do almoxarifado, porque fiquei sabendo que estava sumindo remédios e máquinas de calcular. D.G.botou um colchão no chão e dormiu ali. Na moita, para ficar observando o movimento dos larápios. Depois de alguns meses ele me trouxe o nome dos camaradas que furtavam. Espertos eles passavam os produtos pela janelinha do banheiro, para o comparsa do lado de fora.
Mandei abrir processo para exoneração. Achei que botaria os caras na rua. Que nada! O tempo passou, a sindicância enrola, sai um, entra outro, até que – alegaram perseguição – e o processo foi arquivado. Tem mais, D.G. voltou ao Governo como Diretor da CAGERO (Companhia de Armazenamento do Estado de Rondônia), ele nunca gostou de banco, dizia que todo banco rouba, guardava o dinheiro debaixo do colchão. Mania dele até hoje.
O assunto desta crônica é outro. Ele tinha feito muita raiva para a esposa dele, que era professora, extremamente responsável, excelente pessoa e D.G. cheio de manias. Ficaram mais ou menos separados. Nada formalizado, mas ele pra lá, ela pra cá. Ele foi para Porto Velho, dormia numa cama daquelas que a cabeceira tinha madeirinhas torneadas, lisinhas, espaçadas regularmente e dividia o quarto com um advogado da empresa.
Até aí, cem por cento. Ele já vinha de namorico com uma morena encorpada e aproveitou que o colega não estava, levou a menina para o quarto. Foram se embolando pra lá e pra cá. Certo momento, no agudo da relação, ele teve um espasmo tão forte, jogou-se para trás, voluptuosamente, não sei como, a cabeça entrou entre os tabiques da cama. A desgraça foi que não conseguia tirar a cabeça do mundéu.
Ela se afobou. Puxou de todo jeito. A cabeça ficou travada, como numa guilhotina. Ai meu Deus!!! E agora? Ela teve que calçar a cara e ir atrás de uma serra e livrar D.G. do maior sufoco da vida. Estas coisas acontecem com as melhores famílias. D.G. honradíssimo, exemplar, como foi cair numa arapuca desta?
Texto escrito em 02 outubro de 2021.