(Este acontecimento narrado aqui, nesta crônica, infelizmente não coloquei a data – por certo foi final do ano de 2019)
Não sei se foi conto fantástico ou tragédia grega. Tem chovido muito em Porto Velho, as águas do Rio Madeira estão mais barrentas. O rio é novo. A temperatura é a de sempre, quente com o úmido. Não gostei do que assisti neste exato dia. O meu gosto ou desgosto nada interferiria nos fins. Como a vida nos surpreende. E as coisas não são como se quer simplesmente.
Ahhh! Se pudesse prever o que viria pela frente? Um dedo de tempo à frente do nariz. Confesso que não teria ido. Mas fui. Recebi o convite do Flavio, que é funcionário do Incra de Rondônia, para ir à Superintendência para conversar. E que pudesse receber os agradecimentos pela defesa que faço no Senado à manutenção do órgão.
O prédio é o mesmo. Grande e desolado. Nem parece ao que foi no passado, pelo poder de fazer e estruturar o Estado de Rondônia. Há uma sensação de que tudo ali é uma paisagem sombria. Pouco ou nada se renovou. Há, pelos corredores, lembranças guerreiras de engenheiros, topógrafos, servidores graduados em leis de terras e instalação de assentamentos rurais em quase todas as cidades deste Estado.
Muito bem, voltando à visita, uma boa prosa em torno da mesa, da sala de reuniões, tudo sem formalidades, sem cafezinho e nem água, para se ver a falta de dinheiro do INCRA. No auditório, os servidores, poucos diante dos desafios da regularização de terras, estavam por lá, aguardando a mim, ao Deputado Estadual Chiquinho, superintendente interino (não cito o nome).
Feito o discurso pelo Superintendente, uma prestação de contas, onde exaltou a transparência e sua luta inglória por mínimos recursos, para o essencial das suas necessidades, ao final aplaudido.
O Presidente da Associação dos Servidores falou da carreira estacionada, pouco atrativa, das reformas em andamento no Congresso. Repudiou a todas as investidas contra direitos dos servidores públicos. Pediu-me para votar contra.
Deram-me uma placa de homenagem pelo discurso que fiz em defesa da instituição. E acabou a reunião. Fui saindo, dois prefeitos queriam falar comigo. Foi-me cedida uma sala. Ligou o ar condicionado. E me deixou à vontade. Coronel VILSON Sales veio me consultar sobre política. Tem desejo de se candidatar a prefeito de Porto Velho. Dei-lhe as explicações iniciais. Homem sério.
Neste curto intervalo, surgiu o inesperado. Coronel Gualberto veio avisar que o Superintendente acabava de ser demitido. Uma força tarefa da Policia Federal, doze homens armados, acompanharam o Corregedor Geral do INCRA, que veio entregar notificação de que todos estariam exonerados, a partir daquele momento.
Sai da sala onde atendia, passei pelo Gabinete onde o alvoroço acontecia, cumprimentei a todos, fiz de conta que nada sabia, despedi-me, agradeci e fui embora. Foi uma destas coincidências, que só acontecem de séculos em séculos.
Pobre INCRA!!! que vive atormentado pela escassez de recursos, por paredes sem brilho, moveis antigos, sem lustre ou cor, o pesadelo de saber fazer, por querer trabalhar e, pelo que vi, ainda permanecerá por muito tempo atormentado por sombras e desolações. E também por desilusões.