Salto no escuro (uma história da pandemia COVID-19) Capítulo 55

Salto no escuro (uma história da pandemia COVID-19) Capítulo 55

Na quinta-feira, dia primeiro de abril, o Brasil fechou com 3.673 mortes. Assim, tem se repetido nos últimos dias.

Seguem enfileiradas as velas acesas. Como se parentes e amigos seguissem juntos os 3.673 caixões. Passo a passo vão seguindo, entre ruas e becos, tremeluzindo, na viagem infinita. Enquanto, deixam para trás, um sombreado tremido, casas silenciosas, duvidosas, como se tudo fosse um sonho mágico e trágico.

Nada de sonho mágico e trágico. Tudo real. Mesmo assim, acendem ilusões, como fogo-fátuo que evapora das covas e valas. Espantam-se os ainda vivos como uma assombração.
Matemática é uma ciência exata, como já esqueci quase tudo, não sei se a progressão é aritmética ou geométrica para a função morte. Pelo sim, um entremeio entre elas. Mas, se dá como certo que o número de mortos aumentará.

No caos, nas crises, guerras, nas tragédias naturais – em que cidades são destruídas e milhares de mortos estendidos ou soterrados, surge, naturalmente, o sentimento de reconstrução.

Estamos na tragédia. E o sentimento de reconstrução ainda não chegou, com o dedo em riste, que a circunstância se impõe. Está faltando a figura do líder verdadeiro. O condutor do povo atormentado, necessitando da voz retumbante, que ocupe todo território nacional. A voz encantada, soberana, tal qual Ulisses Guimarães, bradou em momentos difíceis.

A guerra da morte, sem balas, em que o nosso povo acuado e atacado por um fantasma (coronavírus), do lado de cá, as tropas prontas para atacar, sem o alvo à vista, enquanto vão tombando valorosos guerreiros, como uma Batalha de Borodino às avessas, em que só se morre de um lado, enquanto, o coronavírus vai-se vestindo com roupas novas (variantes).

Os guerreiros ainda vivos, batem cabeça desorientados, numa cidade desocupada.
Faz falta (mesmo!) o estadista grandioso – ou centenas de estadistas estaduais e municipais, para nos liderar na salvadora travessia do Mar Vermelho.

Será que soltaremos rojões a cada final de mês? Será que doaremos ouro, joias e patacas para o lastro da guerra? Será que ficaremos desafiando a realidade dos fatos, claros, científicos que a tragédia existe?

O líquido e o certo é a vacinação em massa. Enquanto ela não concretize, temos outras armas, simples e anunciadas.

Mas, então? Ficaremos, à porta de todos os poderes, esperando os Bárbaros chegarem? E se eles não chegarem Konstantinos Kaváfis? – O que será de nós?

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