Malafaia x Tinoco x excomunhão

Malafaia x Tinoco x excomunhão

Ariquemes, 8 de março de 2009

Confúcio Moura

Malafaia é peça rara. Em extinção. Ele pisa no calo do crente sem dó nem piedade. Tem hora que faz o outro baixar a cabeça com sua verdade dura. Ele mexe com o brio humano. Põe em xeque-mate a fé de muita gente.

I Coríntios 13 “ainda que falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”. Ele partiu daí na sua pregação em Ariquemes. E disse os fundamentos do cristão, especialmente do crente, o amor a Deus, a sua palavra na Bíblia, a FAMILIA, a devoção à igreja, a evangelização, e o ser patriota.

Mais ou menos assim, não gravei. O foco é que o crente deve ser crente dentro e fora da igreja. Não basta o que fala e brada no culto. Em casa deve ser igual. Aquele que bate na esposa, que espanca, sem piedade, o filho, e na igreja expressa em língua estranha, na verdade, não é crente. É um falso crente. Isso serve para o católico. Para o espírita. Para qualquer religião.  Deve-se ser religioso na atitude pessoal, no exemplo, tanto na igreja, quanto na família e na sociedade. A importância da família, que deve ser prioridade, mais que a igreja. Se não mulher e filho falarão – o Deus do meu pai não é o Deus que eu gosto.

Malafaia não é brincadeira. Por isso gosto dele. E da sua verdade nua e crua. Em suas palavras, foi mais longe, discorrendo sobre a permissividade da religião com a política. A busca da vantagem pessoal. Da extorsão e da chantagem. Ele bateu nessa tecla e clamou para que o crente ame a sua cidade. E eu aqui, hoje, depois de alguns dias, busco a mensagem do Malafaia para me acudir. Ainda bem que as igrejas de Ariquemes não receberam a carapuça. Eu conheço os pastores. E grande parte do seu povo.  Pelo contrário, aqui o povo evangélico tem me ajudado muito. Quem pode dizer um triz do Silvio Viola? E da Assembleia de Deus com suas obras sociais? Dos membros da Congregação Cristã que a mão direita não vê o que a esquerda faz? E das pastorais da Igreja Católica, que fazem um trabalho social e de saúde pública extraordinários? E igualmente as demais igrejas? Mesmo assim Malafaia pega firme nas minorias.

Além de Malafaia, cito aqui o Pastor Tinoco, da Quadrangular. Assisti-o ano passado em Ariquemes. Uma pregação que mereceria ser paga a bilheteria. O homem é um furacão. Um mobilizador social incrível.  Um sermão em cima da motivação das pessoas. Mexeu com os brios da igreja; para o entusiasmo, o marketing pessoal do crente, do planejamento da vida e do cumprimento rigoroso das metas.  Fiquei de queixo caído. Uma maravilha.

Ainda no quesito religião, fico pensando na excomunhão do médico pernambucano. Aquele que fez o aborto na menina grávida de gêmeos. De apenas 9 anos da idade.  Trinta e poucos quilos. Ainda sem peito e nem pêlo. Saibam que a lei ampara o aborto quando põe em risco a vida da mãe.  Mas ele foi excomungado.  Ainda não sei o que é excomunhão. Seria mandar o cara pro inferno em vida? Não entrar na igreja?  Talvez possa ser uma pena alternativa à fogueira. Uma advertência, sei lá.  Talvez um apego ainda existente do poderio católico dos velhos tempos da inquisição.

Esses dias, assisti a um filme: SOMBRAS DO GOYA, com Javier Bardem.  Quem puder, assista-o para que possa ver e sentir o que era a antiga Espanha nos bárbaros tempos da inquisição. Por certo ficou ainda perdida no Código Canônico essa excrescência, que é a excomunhão.

Nesta semana fiquei pensando em mim. O que seria de mim se fosse excomungado? Ficaria marcado para sempre com ferro em brasa, na testa, bem visível a tatuagem da excomunhão? Ou vestiria o roupão listrado de vermelho dos presídios organizados? Pobre Confúcio, excomungado. Peregrinaria pelo mundo sem casa, sem pátria, um andarilho maldito pelas estradas, com um imenso saco de pecados às costas. Pobre Confúcio, excomungado. Sem eira e nem beira seguiria em frente para arder eternamente nos caldeiros de azeite do inferno.

Mesmo assim, com essa formação, discordo dessas intromissões da igreja contra a ciência, o Estado e a lei; contra as pesquisas com células troncos; contra a transgenia; contra o uso de preservativo; contra o uso de anticoncepcional; contra o aborto justificado que põe em risco a vida da mãe. Ainda tenho um apego adolescente pela Igreja Católica. Não louvo a medida extrema do arcebispo de Olinda. Do outro lado, louvo o trabalho fantástico de Dom Helder Câmara, da Irmã Dulce na Bahia, de Zilda Arns no Brasil inteiro, o trabalho silencioso das pastorais, até mesmo do polêmico Bispo Dom Pedro Casaldáliga, do Papa João Paulo II, de Dom Moacyr Grechi, que tem história de luta no Acre e em Rondônia.

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