Talvez me reencontrei no acaso

O que mais há na vida da gente são os encontros não programados. Bem como, os rumos que se têm que tomar na vida. Nada sai bem certinho, como a gente pensa que irá acontecer. Tem muitos becos, muitos labirintos que se vai entrando, quem sabe, no escuro e lá na frente, não se sabe, como se pode sair.

Agora, bem recente, novembro, eu estava ali na belíssima praça à frente do alto Comando do Exército, aqui bem perto, colado ao Eixo Monumental de Brasília, para gravar alguns vídeos de apoio político, aos companheiros de Rondônia.

Tudo ali, na praça, cheira bem. Esmero, disciplina e ordem. À frente dela, guardado um acervo arquitetônico incrivelmente belo. Ninguém ali se atreve a pisar na gama. A tirar uma flor do jardim, porque sempre há o olho de um soldado, bem aberto.

E justamente, por isto, que o pórtico arqueado (que só pode ser da lavra de Niemeyer) se impõe tão nobre. A Bandeira do Brasil tremula insistente. A praça é irretocável.  Eu me sentei ali, por alguns minutos, peguei o celular, como vício dos tempos, me dei a olhar chamadas e este mundo de inutilidades que te bate como sino, a toda hora.

Sentei-me num banco. A máscara como dever cívico. E sanitário. Fiquei ali concentrado. Ouvi passarinhos que se esbaldavam com segurança. Nem se atinavam quaisquer preocupações. Eu vi casais passeando de mãos dadas. Casais com crianças, com esteiras assentadas, máquinas filmadoras, lanches, água, como num piquenique.

Ali ficaram por horas, concentrados em outros valores, não vistos nos programas de TV, nem nos filmes e séries. Estavam em busca de serem, simplesmente, gente. Humanos. Curtindo o ambiente e o prazer da família junta.

Quando menos espero, chegou um “passarinho” personificado em menino sapeca. Perto de mim, eu como estava, absorto em besteiras, ele chegou, alegre, puxando prosa, identificado comigo como a figura do avô.

Disse algumas coisas, tudo rapidinho, sem reservas, espontâneo, sobre o aniversario da irmã, que tirariam fotos e que estava muito alegre e feliz. Os passarinhos tagarelavam, bem-te-vis, pardais, muitos outros, cujo canto enobrece pela pequenez e astúcia.

Os soldados discretos, cumprem seu quarto de hora, discretos, vigiam tudo.

Eu me senti promovido a general, reencontrando-me com o menino, que não sei o nome, que me encantou, não o abracei, mas me senti perto dele, num inesperado encontro de gerações.

Ele e eu afastados pelas idades extremas, juntando-nos neste belíssimo logradouro, a praça, ponto de encontro necessário, numa cidade grande, que por maior que seja, é indispensável para que as pessoas se sintam verdadeiramente humanas.

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