Estas coisas (erradas) acontecem

Estas coisas (erradas) acontecem

Quando fui sargento da PM de Goiás, entremeio anos 60 e 70, fui lotado na P1. P1 (Setor de Recursos Humanos do Comando Geral). Eu já vinha agarrado nas apostilas, seguindo a estrela guia, rumo ao vestibular de medicina. O meu serviço era preparar expedientes de reforma (aposentadoria), licença-prêmio, férias, estas coisas de direitos adquiridos.

O Capitão Eduardo era meu chefe. Formado em direito, cuidadoso com o que assinava, tinha confiança em mim, corria os olhos e metia o chamegão. Mas, sempre tem o dia da zebra. No cabeçalho dos expedientes, vinha o chavão costumeiro: “a pedido da parte interessada, etc e tal.

Foi exatamente aí, que o bicho pegou. Não vi. Não sei. Não me lembro. Escrevi na minha máquina Olivetti, de triste lembrança “A peido da parte interessada….”. Tudo bem, o Capitão assinou. E o dito parecer, caiu na mão do Coronel Geraldo Antônio de Freitas, que pegou o papel assinado, bateu o olho e viu “a peido da parte interessada”.

Não deu outra. Chamou o Capitão Eduardo à sua sala, deu aquela bronca regulamentar. O Capitão saiu de lá soltando labaredas pelos olhos. Nem me chamou para se descarregar da ira e da vergonha. Tocou a corneta. Fim do expediente.

Entrei em forma para ouvir a leitura do Boletim. E mais algumas refregas de ordem unida. A leitura do boletim avançava. Chegou à parte mais temida – a chamada QUARTA PARTE: – justiça e disciplina. Eu tranquilo, ouvindo a rotina de todos os dias. Quando me estremeço com uma punição.

– ADVERTÊNCIA ao segundo Sargento Confúcio Moura, número 731, por não ter pelo preparo próprio, a dedicação imposto pelo sentimento do dever. Estremeci. Encerrado o expediente, os colegas vieram saber o motivo da punição. Eu sinceramente, não sabia.

A noite não passava, as horas eram longas, os barulhos me incomodavam, até de uma muriçoca, suei demais, lençol virou um caracol de tanto rolar no meu beliche. Por fim, chegou o dia seguinte. Fui direito ao Capitão. Me enquadrei. Me apresentei. E perguntei o que teria feito de errado para merecer a punição. Ele puxou o (parecer) da gaveta e me mostrou. Eu concluí: – a punição foi justa.

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