O perdido na viagem

Tião  Viana (Governador do Acre) convenceu a mim e outros governadores da Amazônia, a comparecermos a  EXPO MILÃO 2015, Itália.  Onde poderíamos apresentar a nossa região, promover eventos, divulgar os nossos Estados. Fui sozinho. Sem falar nada de inglês e nem italiano. Pior ainda, o francês. Arrastando a mala, não despachei bagagem. Fui levado pela conversa do Tião Viana a quem admiro muito.

O tema da exposição: “alimentar o planeta e energia para a vida”, o mundo estava ali, com luxuosas “casas”, nem falo estandes, nem falo pavilhões, luxo e grandeza.  Cheguei ao aeroporto de Paris, gigante, gente fervilhando, parecendo um formigueiro, eu arrastando a mala, uma blusa de frio e um paletó dentro de uma capa e fui andando, sem saber onde fazer a conexão para Milão. Ninguém me entendia. Eu fiquei que nem bobo, um idiota latino-americano. A cada  informação: –  Speak english? – No.   Parles français?  – No. Eu hein! – No, no, no. É uma sensação de abandono completo. Um homem e a sua insignificância.

Pela misericórdia divina,  falei com uma senhora e “gracias a la vida” era portuguesa. Ela me orientou,  eu zanzei meio tonto, estilo Mazaropi, carregando minha trouxa de roupa, errei o rumo, atravessei uma área proibida. Um guarda apitou. Fiz de besta, fui em frente, peguei a calçada do prédio, transversei por entradas restritas, ninguém me entendia, por isto fui perdoado. Meu cérebro ficou apagado, como se eu tivesse num sonho.

Botei a mala no raio-X da segurança, aparelho viu um tubo de desodorante. Me fez abrir a mala. Deixei o desodorante por lá. Andei que nem louco até achar a sala de embarque. Bateu a fome, dei umas voltas, achei uma lanchonete, tudo dentro de freezeres, industrializados, catei um “sanduba” e um suco de laranja, que nem gosto de laranja tinha e me sentei para respirar fundo.

Enfim, em Milão. Não encontrei Tião Viana no hotel, como o combinado.  Resolvi tomar um banho e cair na cama. Não tinha a menor orientação do tempo, Milão –  Brasil, também, nem me interessava saber. Meus níveis de endorfinas estavam a zero. E eu sentia uma sensação de esgotamento, como se tivesse subido em cem pés de açaí. Voltei ao chão de mim mesmo.

Amanheceu o dia, outubro de 2015, botei o paletó amarrotado, engatei a gravata, peguei um táxi e fui para o local do evento. Tião sumiu. O cara do táxi me deixou longe e mostrou com o dedo o rumo. O que poderia fazer? Meti o pé na estrada e tudo era muito grande. Calculo uma hora entre o táxi e o local do evento. Enfileirados os pavilhões, Malásia,  Rússia, Vietnã, e mais outros. Achei o maravilhoso prédio do Brasil, arquitetura incrível, lindo mesmo. O que mais me aturdia era não saber falar idioma nenhum.

O Tião  Viana apareceu. Senti um alívio como se fosse o encontro do “filho pródigo” , rodei com ele e mais o Marcelo Miranda (Governador do Tocantins). Não falei nada dos meus desencontros. Disse que fiz uma ótima viagem. Só Deus sabia da verdade. Fui ao auditório com ele para falar da Amazônia, Tião é muito organizado e bem relacionado. Eu respirei fundo, uma conversa de Brasil pobre. Querendo mercado para a floresta em pé e sequestro de carbono.

Chegou a tarde, resolvi voltar para o hotel sozinho. Entrei na estação de metrô, gente fervilhando, comprei a cartela da viagem, coloquei dentro de uma roleta, a cartela sumiu. E travou. Não passei. Voltei e comprei outra passagem. Tornei colocar na mesma.  Ela sumiu de novo. A catraca não abriu. Não teve jeito. Aí me aventurei gesticular com um guarda, mostrei o endereço do hotel. Ele me entendeu. Voltei e comprei mais uma passagem. Fui para o lugar certo.

Trens para direita e para esquerda, becos estreitos, e gente se atropelando.  Pulei dentro do vagão, fiquei em pé com os punhos dentro de uma braçadeira. Eu não sabia qual a estação descer. Umas mocinhas por perto me orientaram. Desci do trem, na plataforma indicada, subi escadaria, como se tivesse saindo de um buraco de tatu. Vi a rua, as lojas, o movimento e me apurei de novo,  o hotel estaria para a direita ou esquerda? Peguei a direita,  por intuição, dei a volta na esquina, o bendito hotel de frente.

Tião Viana ficou por lá, na EXPO MILÃO 2015, eu não. Estava de saco cheio. Viagem tão longa para quase nada de resultado. Não conheci nenhum restaurante. Não comi nada da famosa gastronomia italiana. Nem tomei nenhum vinho da Toscana. Nem mesma “grapa”  (cachaça de uva). E toquei de encarar a viagem de volta. Agora, o trecho teria escala em Amsterdã (Holanda). Nunca vi aeroporto tão grande! Esconjuro. Cada corredor a sumir de vista. O mundo é grande e pequeno, não é que me dei de testa com a Débora!  Amiga de  Ariquemes, Garapeira, buscando aprender tudo de gastronomia e vinhos na França.   Ô alívio! E fui com ela andando com minha carga.  Não tive mais problema.

Tião Viana, de novo, engabelado com uma ONG do Colorado, Estados Unidos, me convenceu ir ao evento na Indonésia, patrocinado pelo GCF (Governo Clima e Floresta).  Voo direto para  Dubai.  Dubai para Jacarta.  Jacarta para a província de Kalimantan Oriental, cidade de Balikpapan, bela, rica em petróleo, uma ilha vulcânica da Indonésia. No frigir dos ovos peguei um tromboflebite (veia inflamada).Viagem longa, sentado, vermelhão da coxa esquerda ao joelho.  Tomei 150 injeções de heparina (clexane 40) e de agora, em diante, cautela, muita cautela. E dizer não, quando o coração não pedir. Confesso que aprendi.