A maldição do poder

A maldição do poder

Este artigo foi iniciado em 30 de agosto 2006 e concluído em 27 de junho de 2021. Ficou escondido de mim mesmo. Agora, eu o publico.

 “Os governos, com seus inevitáveis processos de violências e hipocrisias, ficam alheados da simpatia dos que acreditam nele; e demais, esquecidos de sua vital impotência e inutilidade, levam a prometer o que não podem fazer de forma a criar desesperados, que pedem sempre mudanças e mudanças”. (Lima Barreto – Livro – O Triste Fim de Policarpo Quaresma).

Será, meu caro amigo, que tem jeito de não ser violento e hipócrita?

 – Infelizmente, não.

O que são essas intermináveis guerras senão a violência e a hipocrisia a dizer que elas são justas e necessárias?  Hipocrisia é torturar preso de guerra e condená-los sem um processo formal de acusação. Os Estados Unidos fizeram isso em Guantánamo (Cuba) e Abu Ghraib (Iraque). A prisão sem processo remete o homem ao barbarismo. E ele suspenso no ar como alma penada é como se não existisse. É o homem na sua infinita insignificância.

Verdade da frase “ficam alheados da simpatia dos que acreditam nele”. É tormento desconfiar. Pior ainda é não ouvir os amigos. Como é difícil diferenciar a boa da má intenção. A sagacidade do interesse pessoal. Na ciranda da desconfiança, o homem público comete injustiça, que apenas o tempo revela, mas tarde demais.

Não há governo que não erre. E que também não seja injusto com amigos leais. Por isso o poder é uma gangorra. O eterno golpe de destruir e construir. Bem sabe o que fez Napoleão para crescer. Nadou em sangue de milhares de franceses.

O que fazer agora? – Tomar decisão.  Que não seja aturdido pela soberba e nem como um semideus.

Não precisa ir longe. A gente vê barbaridade a cada dia. Sequestros de inocentes por terroristas. Países dirigidos por loucos. A milícia sendo o destaque no enfrentamento do tráfico. E um e outro se igualam em poder e contravenções. Nem preciso falar do mundo árabe. E nem por aqui na América Latina.  Nem os remanescentes comunistas ainda existentes. Do império americano altamente vaidoso.

Ah! Lima Barreto, jovem, negro, pobre e alcoólatra. Ah! Intelectual insurrecto. As suas verdades continuam. Elas são atualíssimas. Acho que pior do que no seu próprio tempo.  Nada mudou, Lima Barreto, absolutamente nada. Você ainda me escuta?

Eu vejo os negros brilhando na seleção de vôlei do Brasil. Agora mesmo, estava ali, na sala, vendo o jogo de Brasil contra a Polônia. Também nos times de futebol. E agora ganhando terreno na luta consciente nas vagas das universidades. Uma pena que o nosso país ainda se agarre nos princípios de horrores da escravidão tão longa.

O que fazer para que o governo mude?

Nem poderia falar essas coisas. Fui Prefeito, fui Governador. Essas verdades caem em mim. Falo porque sinto necessidade de falar. Falo para me tratar desse vício ou peste.

  O que fazer então?

Diminuir o Governo. Enfraquecê-lo. Deixar prosperar as iniciativas organizadas. Os movimentos sociais, as igrejas, os sindicatos, cooperativas, organizações não governamentais, os partidos políticos – ao menos que as organizações possam defender os seus interesses legítimos. Uma nova ordem democrática – como um modelo de se evitar os tiranos – o semipresidencialismo.

A democracia representativa não funciona na ignorância. Com a participação melhora. Com a concomitância do poder civil aperfeiçoa. Pode ir além, com a democracia de resultado fecha o ciclo do governo – para que, ao menos, seja mais justo. Dar mais a quem tem menos. Hoje acontece o contrário. Ministro Paulo Guedes disse – que não é fácil dar alguma coisa para quem não tem nada. Tirar do rico para dar ao miserável. Tirar do pobre para dar a quem passa fome. As forças políticas reagem. Não aceitam. E termina que tudo fica igual.

O que é governar senão distribuir?  O que é governar senão administrar interesses? O que é governar senão gerir conflitos? O que é governar senão oferecer os serviços essenciais?

Não me cansarei, nos meus escritos, de dizer duas palavras mágicas – CONHECIMENTO E OPORTUNIDADE.

São portas estreitas.  Qualquer governo será eficiente se abri-las. Se deixar uma réstia de sol entrar nas vidas. São as gazuas que se dão aos homens comuns para se transformarem em incomuns. Por certo, no Brasil, do Prefeito ao Presidente, basta o simples bem feito, para que haja aqui, também, a maravilha da transformação – que nenhum brasileiro passe fome.

O livro citado foi escrito quando Lima Barreto tinha 29 anos, no início do século XX, ano de 1911.

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